terça-feira, 4 de setembro de 2012

QUANDO TENTARAM ROUBAR A SANTA




                                                Foto do arquivo da Fundação ROGE



As duas cidades estão ligadas históricamente. Uma nasceu da outra e portanto são: mãe , Delfim Moreira e, filha, Itajubá. A filha cresceu, prosperou e ficou rica, mas, a mãe está acanhada lá no alto da serra. Houve época em que elas se estranharam, tudo por causa da Santa. Foi assim..

Em 1703 Miguel Garcia Velho descobriu ouro nas proximidades da cachoeira de Itagiba dando origem ao povoado de Descoberto de Itagiba que depois, quando é entronizada a imagem de Nossa Senhora da Soledade como sua padroeira, ela se torna Soledade de Itajubá. Em 1752 lhe é concedida a prerrogativa do altar portátil e é celebrada a primeira missa, sendo seu cura o Pe. Antonio da Silveira Cardoso e Silva e em 1762 é elevada a Freguesia sendo seu cura o Pe. Floriano da Silva Toledo.

Quando em 1818 chega o Pe. Lourenço da Costa Moreira a situação se modifica e surge crise entre os fieis. Não gostando da Paróquia e atribuindo-lhe muitos defeitos o novo sacerdote instiga o povo a abandonar o local e descer para o Sapucaí. Guido Gilberto do Nascimento relata que cerca de oitenta homens aquiesceram à convocação do senhor vigário e na manhã de 18 de março de 1819, após Missa, com orações e súplicas ao céu pelo bom êxito da jornada, eles partiram para as bandas do Sapucaí. O Padre vigário, que era coxo foi a cavalo e no dia seguinte, 19 de março, celebraram a chegada ao novo lar.Era o início de uma povoação que mais tarde se transformaria na atual cidade de Itajubá. Pe. Lourenço deixou a freguesia ou Capela Velha de Soledade de Itajubá, sem assistência e ainda lhe fazia inúmeras críticas dizendo que ela não tinha mais recursos deplorando sua topografia, clima e isolamento. O Padre gozava de prestígio nos meios políticos e graças a essa influência conseguiu pelo Decreto de 8 de novembro de 1831 suprimir a freguesia de Soledade de Itajubá rebaixando-a a simples curato. O Decreto foi assinado pelo Padre Diogo Antonio Feijó, Ministro e Secretário d´Estado do Interior e Justiça da regência Trina. Em princípio de agosto desse ano Padre Lourenço, acompanhado de muitos fieis da Boa Vista do Sapucaí, rumou serra acima para a velha localidade com a finalidade de buscar o livro do Tombo, as alfaias,a Fazenda e os santos pertencentes à Paróquia. Na época chamava-se de Fazenda a parte administrativa eclesiástica responsável pela parte econômica financeira da igreja. Tal qual temos, em semelhança, o Ministério da fazenda. Ela era, também, o cofre e o caixa da Paróquia.

Os delfinenses souberam da expedição e se prepararam para receber “o Aleijado”,como o apelidaram, e sua turma. Nas proximidades da Velha Capela o Pe.Lourenço, todo paramentado, organizou uma procissão com os homens vestindo opas e tochas e as mulheres de véus e velas acesas. Rezando e cantando loas eles caminharam pela velha estrada. Quando a procissão chegou ao pontilhão do rio Taboão, no início da povoação, foram surpreendidos por homens armados de foices, facões, espingardas e dispostos a não permitir a entrada.Ninguém, mas ninguém mesmo, iria levar a santinha, custasse o que custasse. De um lado da ponte estavam os defensores da Santa e no lado oposto estavam os invasores com o padre e comitiva. De repente, no auge da discussão um tiro espocou, para o alto. Alguém, depois, asseverou que não foi tiro, foi um foguete. Foi o suficiente para debandar a procissão e por o pessoal a correr, desorientado, para suas montarias e voltar para o Sapucaí. Em pânico eles nem se lembraram das alfaias, Livro de Tombo, santos, castiçais, Fazenda e sinos. Humilhado o Padre Lourenço jurou que iria fazer a completa extinção da Velha Freguesia. Coisa que nunca ocorreu.

Em 30 de novembro de 1842, a Lei Provincial nº 239,pelo seu Art. 2, devolveu a condição de Freguesia para Soledade de Itajubá.







0 comentários:

Postar um comentário