segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A SERRA DA MANTIQUEIRA





A Serra da Mantiqueira tem o nome de origem tupi-guarani Amanti-Kir e significa “Serra que chora” devido à grande quantidade de nascentes e riachos encontrados em suas encostas. Ela integra o ecossistema da Mata Atlântica que possui uma das maiores biodiversidades do planeta. Numa extensão de quase 500 km. ela se espalha pelas divisas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Possui uma linha de cumes mais elevada que se inicia próximo a Bragança Paulista seguindo na direção norte-nordeste, delineando as divisas dos três Estados até a região de Parque Nacional do Itatiaia e daí continuando dentro do Estado de Minas até Barbacena.

No início da ocupação do Brasil ela foi um grande obstáculo a ser vencido para as expedições que iam para o interior em busca do ouro e das pedras preciosas. Vários desbravadores paulistas, entre eles Fernão Dias Paes Leme, abriram caminho a partir do Planalto Paulista, seguia pelo Rio Paraíba passando por onde estão hoje as cidades de Taubaté, Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Lorena até a Cidade de Cachoeira Paulista. Daí atravessavam a Serra pela Garganta do Embaú e Passa Quatro e adentravam pelo Sertão da Mantiqueira.

Com a descoberta do ouro a Coroa Portuguesa, no intuito de controlar o trânsito do metal e facilitar a cobrança dos impostos, define o único caminho permitido para o acesso às minas e para o transporte do metal, e que ficou conhecido como Caminho Geral do Sertão. Este se iniciava em Paraty, atravessava a Serra do Mar e atingia Guaratinguetá. Daí seguia pelo caminho dos Paulistas atravessando a Mantiqueira e passando por onde estão hoje Passa-Quatro, Itanhandu, Santana do Capivari, Consolação, Pouso Alto, Boa Vista, Baependi, Conceição do Rio Verde, Cruzília e Ingaí. Aí atravessava o Rio Grande chegando a Ibituruna e subia o Rio das Velhas até o Arraial do Rio das Mortes, hoje São João Del Rey. Seguia então até a Vila Rica, hoje Ouro Preto.

A mantiqueira é a região de alguns dos picos mais altos do país:

Pedra da Mina – 2,897 m, entre Passa Quatro e Queluz.

Agulhas Negras – 2.787 m, no Parque Nacional do Itatiaia.

Pico Três Estados – 2.665 m, entre Passa Quatro e Queluz

Pico dos Marins – 2.420 m, entre Marmelópolis e Cruzeiro.

Também lá estão algumas das cidades brasileiras com maior altitude:

Campos do Jordão - SP – 1.620 m

Monte Verde (distrito de Camanducaia) – MG – 1.550 m

Senador Amaral - MG – 1.500 m

Bom Repouso – MG – 1.370 m

Maria da Fé – MG – 1.280 m

Munhoz – MG - 1.260 m

Gonçalves – MG - 1.250 m

Delfim Moreira – MG - 1.200 m

Bueno Brandão – MG - 1.200 m

Devido à altitude, o inverno na Serra da Mantiqueira apresenta baixas temperaturas, com a ocorrência de nevoeiros no início da manhã e às vezes, geadas, dando à paisagem o visual das regiões de clima frio. É comum o termômetro atingir marcas próximas a 0ºC, sendo que nas cidades mais altas como Campos do Jordão e Monte Verde já se verificou temperatura de - 5ºC .




A LENDA DA SERRA DA MANTIQUEIRA

Rita Elisa, no livro A Menina dos Vagalumes conta a lenda da serra da Mantiqueira que ela recolheu da peça Fantástica lenda de Algures:

Conta a lenda que vivia uma princesa encantada da Bravo Tribo Guerreira do Povo Tupi. Seu nome o tempo esqueceu, de seu rosto a lembrança perdeu; só se sabe que era linda.

Era tão linda que todos a queriam, mas ela não queria ninguém. Vira homens se matarem por vê-la. Tacapes velozes triturando ossos, setas certeiras cortando carnes. Como poderiam amá-la se não amavam a sí próprios?

A Bela Princesa se apaixonou pelo Sol, o guerreiro de cocar de fogo e ouro, que vivia lá em cima, no céu, caçando para Tupã. Mas o Sol, ao contrário de tantos príncipes, não queria saber dela. Não via sua beleza, não escutava suas palavras nem detinha para tê-la.

Mal passava, cálido, por sua pele morena, sua tez cheirando a flor, mal acariciava seus pelos negros, suas pernas esguias, e, fugaz, seguia impávido a senda das horas e das sombras. Mas ela era tão bonita que senti-la nua, seus pequenos túrgidos seios, seus lábios de mel e seiva, sua virginal lascívia, acabaram também encantando o Sol. E o Guerreiro de Cocar de Fogo fazia horas de meio-dia sobre o Itaguaré…

A Lua, mal surgia sobre a serra, já sumia acolá. Logo, não havia noite. O sol não se punha mais e não havia sono, e não havia sonho, e tão perto vinha o Sol beijar a amada que os pastos se incendiavam, a capoeira secava e ferviam os lamaçais…

De tênues penugens de prata, plumas alvas de cegonhaçu, a Lua viu que estava ameaçada por uma simples mulher. O Sol, que na Oca do Infinito já lhe dera tantas madrugadas de prazer, tantas auroras de puro gosto, se apaixonara por uma mulher…

E tanto, de tanto que Tupã quis saber o que era, que a Lua, cheia de ódio, crescente de ciúme, minguando de dor, se fez um novo ser de noite-sem-lua e foi contar tudo para Tupã. Como uma simples mulher ousou amar o Sol ? Como o Sol ousou deter o tempo para amar alguém ?

Que ele nunca mais a visse ! Mas o Sol tudo vê ! … Tupã ergueu a maior montanha que existia e lá dentro encerrou a Princesinha Encantada da Brava Tribo Guerreira do Povo Tupi. O Sol, de dor, sangrou poentes e quis se afogar no mar. A Lua, com a dor do seu amado, chorou miríades de estrelas e prantos de luz. Mas nenhum choro foi tão chorado como a da Princesinha, tão bela, que nunca mais pôde ver o dia, que nunca mais sentiria o Sol… Ela chorou rios de lágrimas, rio Verde, Rio Passa Quatro, Rio Quilombo, Rios de águas límpidas, minas, fontes, grotas, ribeiras, enchentes, corredeiras, bicas, mananciais. Seu povo esqueceu seu nome, mas chamou Amantikir, a “Serra-que-chora”, Mantiqueira, a montanha que a cobriu.



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