sábado, 27 de agosto de 2011

A garganta do Embaú




Lá pela época dos anos 40, no século passado, era comum ir para Aparecida, que na época era Aparecida do Norte, numa viagem de trem. Era uma viagem longa e complicada, saindo de madrugada e fazendo a primeira baldeação, troca de composição férrea, em Soledade de Minas. Dalí seguíamos para Passa Quatro e depois Cruzeiro, já no estado de São Paulo, onde passávamos para a E.F.Central do Brasil e íamos para o destino. De Passa Quaro a Cruzeiro passávamos pelo grande túnel da Garganta do Embaú, muito conhecido por causa do massacre dos paulistas que, na revolução de 1932, tentaram invadir Minas Gerais passando através dele.

A serra da Mantiqueira é uma defesa natural do território mineiro e na época do Brasil Colônia foi um desafio para a escoação do ouro que se fazia através de Parati, entreposto comercial, no fundo da baía da Ilha Grande. O caminho terrestre que partia de Paraty, seguia por Guaratinguetá, passava pela Freguesia da Piedade (atual Lorena), vencia a Garganta do Embaú e chegava a Minas Gerais: era o chamado ”Caminho do Ouro da Piedade.”



Mario Lucio Sapucahy afirma que “ era extremamente difícil transpor a Serra da Mantiqueira por outro ponto que não fosse a Garganta do Embaú. Tal garganta não passa de uma depressão no espigão da Serra da Mantiqueira, local por onde se fazia a ligação entre as terras mineiras e o Vale do Paraiba”.

Lá no alto, marcando a divisa entre os estados de São Paulo e de Minas Gerais, existe uma cruz, a Cruz do Embaú, que em 1720 os mineiros trouxeram do monte Caxambu. Mudando-se, matreiramente, o lugar da cruz, Minas ganhou toda a região da Serra Alta da Mantiqueira.






Para fiscalizar as pessoas que procuravam esse caminho em busca do comércio de São Paulo, Parati e Rio de Janeiro e para combater assaltos e também para evitar o contrabando de ouro e pedras preciosas que saiam de Minas, o governo instalou, na divisa entre a Província de Minas e de São Paulo, o Registro do Embaú, patrulhado pelo corpo da tropas pagas de Vila Rica. Registro era o ponto de fiscalização.

Em março de 1822, Saint-Hilaire, passou pela garganta e se hospedou no Registro.

“ O Registro da Mantiqueira foi colocado mesmo na raiz da serra e compõe-se da casa da barreira, ocupada pela repartição e dum rancho, no qual fica a balança onde se pesam as mercadorias vindas do Rio de Janeiro. Essas construções localizam-se em torno de um grande pátio, fechado do lado da montanha por uma porta de madeira. Como existe o projeto de se mudar o traçado da estrada, não se fez, desde algum tempo, o menor reparo nas casas do Registro que estão, atualmente, quanto muito, habitáveis,”



Assim, também, formou-se outro Registro importante localizado onde hoje é a cidade de Pouso Alegre e se chamava Registro do Mandu, instalado com a finalidade de controlar o comércio e transporte do ouro retirado de Santana do Sapucaí, atual Silvianópolis, e de São Francisco das Chagas de Ouro Fino.

Com a demarcação entre as províncias de Minas Gerais e São Paulo ainda indefinida, Francisco Martins Lustosa e Veríssimo João de Carvalho tomaram posse do descoberto de Santana do Sapucaí e Ouro Fino, e foram nomeados pelo governador de São Paulo, respectivamente, guarda-mor e intendente das minas.

Mais tarde Gomes Freire de Andrade, "mandou que, por ordem sua, fosse tomada posse de todas aquelas terras minerais, estabelecendo uma guarda no Sapucaí e um Registro no Mandu". Com essa medida o governador da província de Minas Gerais esperava resolver definitivamente a questão. Não obstante, continuou encontrando resistência por parte dos paulistas.

A criação de um Registro, muito antes da criação da freguesia, indica que um povoado antigo se formou lentamente às margens do rio. Um lugarejo relativamente populoso que justificava o estabelecimento de um Registro do Ouro no lugar. A presença de certo número de guardas nesse posto fiscal faz crer que seria um Registro de grande movimento, porque por ali passava o único caminho conhecido pelos viajantes, entre Vila Rica e São Paulo.

3 comentários:

Leticia Seda disse...

Toda minha vida estive perto destes lugares e não tinha idéia de sua história.
Ótimo. Amei.
bj

Rita Elisa Seda disse...

Falei para o Mário Lúcio que o senhor o cita nessa crônica e ele ficou muito feliz. Tenho muitos registros fotográficos desses lugares porque os pesquiso há alguns anos. Sempre fico atenta para a Cruz, pois é um marco histórico. Um dia desses passando por lá junto com o Seishum, contei para ele a história da Garganta do Embaú e a lenda da Mantiqueira. Foi bom demais. Aprendo muito com o senhor! Beijos, felicidades e a paz!

IVON disse...

Muito obrigado Letícia e Rita Elisa pelos comentários cheios de sabedoria e repletos de sensibilidade.
Mil beijos

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