sexta-feira, 9 de julho de 2010

A Mudança

Foi então que a conversa rolou. A mesa cheia de garrafas vazias e João reclamando que não sabia que tipo de cerveja estava tomando. Brahma? Antarctica? Tudo agora é igual. As fábricas se uniram e a gente não sabe mais o que está bebendo. Já não há mais prazer em beber. Eu, disse João, só bebo a minha marca preferida, mas quem me garante que o que está neste rótulo é a cerveja que eu gosto ? Quem garante que não é outra?

E eu me recordei de um caso verídico que deu muito o que falar.

Há muitos anos correu o boato de que o sul de Minas, região de Pouso Alegre, Santa Rita, Itajubá , Delfim Moreira e mais algumas cidades iria passar para o Estado de São Paulo.

A conversa na época era até fastidiosa, os comentários os mais diversos, uns aprovando, outros rejeitando. Houve até pessoas que ensaiaram uma pronúncia tipo paulista do interior, carregada em tês ( tt ) e em dês ( dd), tipo " o ttittio comprou um Fordde verdde".

Joaquim Tereza era um homem do interior. Lá dos grotões da Mantiqueira. Ele foi mais longe. Vendeu seu sítio no alto da serra. Bela morada de janelas azuis, com canteiros de flores misturadas com ervas medicinais, pomar cheio de frutas, muitos marmelos e pêssegos, água encachoeirada que fazia murmúrio a noite todinha acalentando o sono daquela gente simples e ingênua. Tudo foi vendido, até a égua alazã, companheira de caminhadas, cria da casa, dócil como um gatinho.

Dona Maria dispôs da população do galinheiro, as galinhas d´angola que sempre reclamavam que estavam fracas, o galo garnisé que provocava brigas com o galo índio e fugia correndo pelo campo afora, os patos achatados de gordos e os marrecos que davam alarme quando alguém se aproximava do sítio. Ela recolheu algumas flores, um pouco de terra para levar como lembrança. O céu azul e as nuvens que brincavam de carneirinhos foram recolhidos por seus olhos e guardados no coração. No coração há sempre lugar para a imagem do que a gente ama.

Tinham que partir, ir embora.

Os olhos que partiam levavam bem nítidas as imagens daquele rincão da Mantiqueira . O corpo partia, ia embora, mas a alma continuaria presa àquelas paragens onde viveu uma vida feliz. Foi alí que o casal criou seus 11 filhos.

Recordação a gente não mata. Recordação a gente alimenta para que ela cresça e se reproduza em muitas saudades.

Compadre Tonico ainda tentou demover seu Joaquim da idéia de mudança. Qual o quê... Nada abalou aquela decisão: homem que é homem não volta atrás, argumentou. Com dor no coração, com peso na alma, mas tinha que partir, ir embora, pois tudo aquilo iria passar para o Estado de São Paulo, e Dona Maria, a Nhãnhã, não se dava bem com o clima de São Paulo, e ele fazia qualquer coisa para ver sua velha com saúde.

2 comentários:

Oscar Negrão disse...

Almas que protagonizam o Amor e a interatividade fraterna entre os irmãos premia sempre os que têm a dádiva em ter esse Professor e pessoa direta ou indiretamente em suas vidas.

Leticia Seda disse...

Concordo com dona Nhanha, o clima de São Paulo é terrivel, fico muito feliz quando chego em extrema e tem aquela placa dizendo: divisa de estado - Minas - São Paulo. Respiro mais fundo e feliz. ahahhahahahah
bjos

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