domingo, 28 de outubro de 2012

A cachaça, o trabalho e o homem







A Cachaça a Deus do Céu

Tem o poder de empatar

Porque se Deus da o juízo

A Cachaça pode tirar



O churrasco rolava gostoso, a saudade bate em retirada quando a cantoria fica mais animada, quando a garganta é molhada com uma pinguinha de boa safra. É coisa de brasileiro o churrasco comemoração e a pinga, pura ou na caipirinha, ou até em outras associações. Já vi sorvete de pinga.

Mas não foi sempre assim. Houve uma época, e isso faz muito tempo, que em Portugal a pinga se chamava cachaça e era sub produto dos bagaços de uvas esmagadas pelos pés, como a graspa que hoje encontramos nas adegas produtoras de vinho, e não era bebida por gente fina. Sá de Miranda, poeta português que faleceu em 1558 registra a cachaça no seu canto às quintas fidalgas lusitanas e Luis da Câmara Cascudo escreve um prelúdio sobre a “água que passarinho não bebe”. Quando se está numa reunião de amigos ou em alguma comemoração a primeira dose é chamada de abrideira, pois ela abre a conversa, é o início da festa, é diferente da saideira, que é a dose de despedida, a que dá o adeus. Uma á a chegada e a outra a saída e entre elas um universo de acontecimentos marca a data. Saint Hilaire, em 1819, afirma que o brasileiro é amante da cachaça, mas não é cachaceiro. No jantar tomar uma dose doméstica da branquinha, pura e envelhecida, de cheiro doce e sabor macio é um ritual que herdamos de nossos antepassados. Só o Brasil sabe apreciar essa especialidade com a certeza de quem conhece o assunto. Os estudiosos dizem que ela teve muitos nomes, adequando-se à sociedade local, igual a gente troca de roupa conforme o clima ou de acordo com a época do ano. Dizem que durante a fabricação do açúcar na época colonial, saia do melaço um vapor que se condensava nos caibros e pingava no chão.Os escravos bebiam desse liquido e se sentiam alegres e animados. Por isso a cachaça também é chamada de pinga.

Mas há uma espécie defeituosa, “ aquela que matou o guarda’, mal destilada, feita sem capricho em alambiques deteriorados, cheia de aditivos perigosos, vendidas nos butecos sujos e nas vendas de beira de estrada. Essa bebida queima como vulcão e explode no estomago provocando azia e arrebenta na cabeça deixando tonto. È dela que Inezita Barroso canta: “ a marvada pinga é que me atrapaia, aqui mesmo eu bebo, aqui mesmo eu caio....” Há quem a tome encostado no balcão e jogando um pouco no chão dizendo que é para o “ santo”, há quem a tome tapando o nariz porque não gosta do cheiro, e há aqueles, ainda, que a tomam por estarem tristes, ou alegres, ou com frio...


                                                       

Não sei porque uma bebida tão cheia de história, tão brasileira, é tomada de qualquer jeito, em butecos sujos e mal afamados, por pessoas que a bebem até cair. Ela devia ser tomada em cálice de cristal, em pequena dose, após um ritual de conversa, com a cerimônia das grandes bebidas. Nunca tomá-la sozinho ou encharcar-se dela. Beber com moderação é a grande arte de quem tem bom gosto.É beber para apreciar e não para se consumir num mar de “fogo”.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O Presente do Índio






Os europeus encontraram a América povoada por um povo de pele bronzeada e olhos puxadinhos. Pero Vaz de Caminha, o primeiro a descrever os índios do Brasil disse que eles eram “ belos, bem feitos, de boas feições e pardos a maneira de avermelhados. Não existia, ainda, o vocábulo bronzeado, a cor trigueira dos freqüentadores do sol. Muitos foram os cronistas e viajantes que descreveram os costumes e o tipo de nossos primitivos habitantes, muito deles impressionados pela liberdade selvagem desses costumes que apresentavam a nudez como coisa natural e espontânea. Caminha narra a surpresa que causou nos navegantes a presença de mulheres ‘ novinhas e gentis, com os cabelos mui pretos e compridos pelas espáduas e suas vergonhas tão altas e cerradinhas, e tão limpas de cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não se envergonhavam”. O que para o europeu era tido como vergonha, para o habitante puro e inocente era apenas um comportamento natural e não libidinoso, e o próprio Caminha conclui que eram “ puros e inocentes”.

A liberdade aberta pela lonjura de sua terra e a índia sensual de corpo nu e atraente encorajaram as uniões. E os abusos sexuais. Por essa razão cinco tripulantes desertaram percebendo que a terra era um convite à vida solta em que tudo era permitido.

Paulo Prado no livro Retrato do Brasil, comenta que “ o indígena era um animal lascivo, vivendo sem nenhum, constrangimento na satisfação de seus desejos carnais.”

Américo Vespucio disse que eles “ tomam tantas mulheres quantas querem, e o filho se junta com a mãe, e o irmão com a irmã, e o primo com a prima, e o caminhante com a que encontra..”e faziam isso tão naturalmente que não se pode dizer que era pecado. Aqueles que ocupavam posição de destaque na aldeia, o Cacique, o Pajé, e o melhor guerreiro, costumavam ter quantas mulheres achassem necessárias e freqüentemente as virgens eram propriedades do Pajé. Foi num ambiente assim que chegaram, em 1565, os Padres José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, em Iperoig, atual Ubatuba, para negociar a paz com o cacique Cunhambebe chefe dos Tamoios. O nome Ubatuba significa "canoa grande" por causa da canoa em que eles viajaram  para o Rio de Janeiro.   Os franceses, com o apoio desses tamoios, tinham invadido a região do Rio de Janeiro e era necessário que os índios retirassem seu apoio. A paz foi estabelecida, o apoio aos franceses foi retirado, não sem antes o Pe. Anchieta sofrer um cárcere cruel numa cabana na praia, enquanto Cunhambebe e Manoel da Nobrega navegavam para o Rio a fim de negociar os termos da Paz com Estácio de Sá. Foi aí nessa praia de Iperoig  que o padre escreveu, em latim, o Poema a Virgem.
Para se redimir do cárcere e dos maus tratos, o cacique Cunhambebe ofereceu ao Pe. Anchieta a mais nova e mais bela mulher da aldeia, e ficou zangado pela recusa da oferta, e não acreditou nos votos de castidade dos Pajés dos brancos, pois o da tribo podia ter quantas ele quisesse.