sábado, 23 de julho de 2011

INSONIA


A noite estava se alongando mais do que eu gostaria. A televisão já não mais me atraia, tinha assistido filmes e documentários, filmes antigos, repetidos, que a emissora dizia que eram inéditos e documentários cansativos, sem interesse.O sono não chegava, tinha perdido o rumo de meus olhos, esquecera meu endereço. Devorei capítulos de livros que durante o dia achei interessante, mas, mas que agora não tinha nenhum atrativo. Lembrei-me de um conto que li h muito tempo, parece-me que era de Erico Veríssimo, sobre um homem que teve insônia e acabou indo até em um velório. Mas, ali, na Chácara do Ipê, na Cachoeirinha, não tinha rua para passear, bar para bebericar e nem velório.


A tradição da insônia manda contar carneirinhos e me pus a imaginar como seria esse processo se não havia carneiros, bodes, cabritos e bezerros lá na chácara. Lembrei-me da auto-sugestão que é um tipo de hipnotizar a si mesmo. Houve uma época em que eu era um bom hipnotizador, foi quando estudava psicologia, e praticava a hipnose em meus sobrinhos. Um deles deixou de fumar pela sugestão hipnótica, o outro ficou tão dependente de mim que eu segurava sua mão, assim numa boa, e dizia que ele não iria conseguir tirá-la da minha, e ele não conseguia mesmo. Imaginei ser fácil fazer a auto sugestão, e bestamente me pus a dizer, como se fosse um mantra, “ você vai dormir”, “você vai dormir”. Mas tinha me esquecido de uma coisa, para a hipnose fazer efeito é preciso acreditar nela e eu não estava acreditando nadinha. Cansei e não dormir.

Resolvi fazer um chá. Mamãe, e também a Rita, sempre falaram que um chá de erva cidreira de capim, ótimo para acalmar o espírito e fazer o sono chegar. Fui ao quintal levando uma lanterna barata, comprada na barraquinha da festa de Santa Rita, daquelas lanternas de leds, recarregáveis, para alumiar, e, com tesoura, cortei algumas folhas de erva cidreira. A noite estava de céu limpo, estrelas assustadoramente brilhantes, a lua era um enorme queijo mineiro, branquinho e suculento, servido numa mesa azul. Aquela apresentação deslumbrante espantava mais ainda a chegada do sono. Fervi a água, sem deixar fazer muitas bolhas para não perder o oxigênio, e deitei as folhas colhidas. Que desastre! Não eram de erva cidreira. No desleixo que a falta de sono causa, no desespero de querer dormir, tinha colhido folhas de citronela. Eu percebi uma vantagem no que estava acontecendo, iria ver o sol nascer, lá no terraço, lugar alto, de vista privilegiada. Abri uma cadeira espreguiçadeira, acomodei-me com conforto, de frente para o nascente e pus-me a esperar o nascer do sol. Teria em meu currículo o fabuloso espetáculo do sol se erguendo atrás da montanha. Acordei já com sol alto, e a Rita me sacudindo perguntando a razão de não ter dormido na cama...