quinta-feira, 14 de abril de 2011

O Óculos e a Flor



Abandonados no fim da mesa

O óculos conversa com a flor:



- Veja como sou feliz!

Eu encontro os caminhos

Através dos olhos dela.

Sou forte, sou luz,.

E também sou janela.

Eu conheço o seu rosto

E entendo seu sonhar

E é através de mim

Que tem luz o seu olhar.



- Não importa – diz a flor,

Se tu tens o seu olhar,

Pois eu vivo em seu colo,

Me aconchego em seu peito

E conheço seu arfar.

Você vê os seus caminhos,

Você é a sua janela,

Mas eu sou o porto de esperança

Ancoradouro do amor

junto ao coração dela.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Venus Calipígia




Estava lendo uma revista trazia assuntos variados desde livros condensados e humor ameno até teste com palavras que normalmente não se usam na conversa comum e que parecem colhidas como frutos raros de uma árvore incomum. Ela afirma que essas palavras esdrúxulas são para enriquecer o vocabulário.

Quando era estudante do IMEE conheci uma garota que só usava palavras difíceis, daquelas que a gente não usa normalmente. Acho que assim fazia para acreditarmos que era uma pessoa culta. Ela ficou com o apelido de Miss Dicionário.

Tadinha, ninguém gostava de conversar com ela.

A revista pergunta pelo significado de calipigia e essa palavra destravou as trancas de minha memória , tomou-me pela mão e fomos para a época de faculdade, para um grosso livro sobre a história da arte. Esse livro exibia a foto de uma estatua grega representando uma mulher que levanta inocentemente o manto para que seu traseiro coloque à mostra os quadris e nádegas . Ela olha para trás e para baixo por sobre o ombro, talvez fazendo uma avaliação . A estátua é conhecida como a Venus Calipigia, e está exposta no museu de Napoles.

Calipígia significa belas nádegas – Cali , bela e Pigia, nádega. Nessa direção podemos compreender Cali-grafia como a arte de ter boa letra, Cali-fonia é ter bela voz.



O conceito de beleza difere nas várias sociedades e de acordo com o tempo histórico. Houve época , lá pela pré história, quando os homens eram nômades e caçadores que o ideal era a mulher ser forte, robusta capaz de abater animais na caça. Houve tribos na África em que as mulheres colocavam mel nos cabelos para que ficassem cheio de moscas e abelhas. Quanto mais insetos tivesse, mais bonita se achavam.

De repente me pus a fazer brincadeiras com a palavra pigia.

Sabe, aquele modo de andar, tipo garota de Ipanema, sacudindo as nádegas, balançando ora uma ora outra, isso pode ser chamado de Ping Pigia, o pingue pongue das nádegas; demopigia é aquela nádega que é um demônio de tentação. E tem aquela pessoa que carrega tanta celulite que pode ser chamada de celupigia.

Credo, vamos parar, porque olhando no espelho percebo que não tenho nádega e portanto sou apígio.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Jejum, eita coisa difícil




SEMPRE TIVE DIFICULDADES com o jejum. Era só dizer que era para fazer jejum que a comida se tornava mais atraente, a carne mugia pedindo para ser devorada e o estomago passava a sentir fome demasiada. Eu sempre fui glutão, devorador de qualquer receita e ousado experimentador das mais exóticas culinárias. Mas tenho predileções. Tem aqueles pratos que eu gosto por gostar, e quando ele vem acompanhado de um vinho de bom tanino eu me perco no pecado da gula.

Por isso foi sempre difícil para mim a idéia de jejum, de abstinência de carne. Meus pais me ensinaram que se devia observar os preceitos religiosos e a Igreja apresentava-os como meio de purificação e mortificação. Eu me esquivava do sacrifício, driblava os pais e sorrateiramente, às escondidas , surrupiava algum alimento fora de hora. Meus pais não viam o delito e a Igreja não tinha como me policiar. Assim foi sendo sempre, vivendo de engodos e mentiras.

Até que um dia compreendi que o jejum que Deus quer não é o de boca, não é ficar sem alimento, não é abster-se de carne. Certa vez Cristo disse que o que mata não é o que entra pela boca, mas o que sai do coração.A Bíblia tem 40 referências sobre o jejum e em Isaias há a indicação de que devemos fazer o jejum da língua.Esse é o que Deus gosta.

A idéia me deixou alerta. De início achei que era coisa fácil,, principalmente por não precisar fechar a boca para os alimentos. Mas descobri que tinha que fechar a boca para as más palavras, que não poderia olhar para aquela corpinho dengoso, de caminhar requebroso e dizer ou pensar malícias. Descobri que o jejum da língua era não dizer palavrão, nem mesmo quando apertava o dedo na porta do carro, era não contar piadinhas indecentes, maliciosas.

O preceito ficou difícil. O jejum da boca faz bem ao corpo, abaixa o colesterol, diminui a barriguinha, deixa o corpo mais ágil. É bom para a estética corporal. O jejum da língua fortalece o espírito, acalma as tentações e abre o coração para o Bem.

Contudo é muito mais difícil levar a cabo a abstinência dos palavrões e das malícias afloradas quando se está na rodinha de homens, contando piadas e exercendo o masculino poder de ser homem.







domingo, 3 de abril de 2011

Zé da Venda




Era assim que ele era conhecido na pequena cidade de Delfim Moreira. Pouca gente sabia que seu nome era José Ribeiro de Castro. Acho que muitas vezes até ele mesmo não se lembrava. Na cidade quase todos tinham apelido, era Dito Bizorro, Joaquim do Zeca, Kim Queijeiro, Zé Pato, Nem as mulheres escapavam do costume, Sinhana, Nhãnhã, Zica, Maú.

Zé da Venda era alto, esbelto, e casado com minha irmã a Zica, que eu chamava de mãe. Eles foram meus padrinhos e talvez por isso criamos uma grande e agradável afinidade. Essa afinidade foi tão intensa que fui convidado para ser padrinho de sua filha Maria Rita, e quando ele queria falar sério comigo ia dizendo ” olha aqui, seo cumpadre.....”

Era proprietário de um negócio de secos e molhados bem no fundo da praça da cidade que era ponto de encontro para bater papo, só perdendo em potencia para os largos bancos da Pharmácia Nossa Senhora da Soledade, no outro extremo da praça. Tanto na venda como na Pharmácia falava-se de tudo, reformava-se o mundo e construía-se nova vida. Tudo no “papo”.

Como padrinho ele me amparava, aconselhava, corrigia e criticava. E sempre tinha um presentinho, mesmo que fossem balas.

Com ele fui fazer parte da Congregação M\ariana e ficava embevecido ao ouvi-lo cantar, com a larga fita azul no pescoço,” De pé. De pé, deu a voz de comando Pîo XI”. Eu acreditava que assim cantava para saberem que ele estava de pé.

Certo dia chegou na casa de papai, olhou bem para o meu rosto que estava começando a criar alguns pelinhos e dizendo que eu estava cheio de penugem me deu um aparelho de fazer barba, daqueles escanhotaveis, onde se colocava uma gilete. Tudo num belo estojo. Mesmo com a chegada de aparelhos elétricos e desses de três lâminas, eu guardava com imenso carinho esse primeiro aparelho de barbear. O tempo, a chuva e a enchente levaram embora essa relíquia.

Cansado da vida de vendeiro resolveu ir para a roça tomar conta de fazendas. Primeiro foi no Campo dos Chiqueiros, bairro às margens da rodovia que vai para Lorena, depois no Rosário, do outro lado da cidade. Minhas férias eram passadas quase todas nesses lugares. No Rosário, além de tudo. Aí eu aprendi a cavalgar como também aacompanhá-lo em caçadas na mata do alto do morro.Aprendi até a distinguir pegadas de onça. Certa vez, achando que já sabia tudo, entrei sozinho na mata e me perdi. As horas passavam e eu fui ficando nervoso, vendo rastros de onça pra todo lado e não encontrando a saída. Quando finalmente a encontrei, estava cansado e arranhado pelos espinhos da cerca que delimita o mato do pasto e o encontrei a minha procura. Não dei o braço a torcer e disse que estava tudo sob controle e que sabia o que estava fazendo. Ele não acreditou, lógico, e me passou um baita sermão.

Durou pouco essa vida roceira pois seu sangue de vendedor falou mais alto.

Meus filhos o conheceram em Itajubá, numa venda montada no bairro do Morro Chique, na rua que vai para o Hospital Escola. Mudou-se para a cidade grande para ter boas escolas para os filhos Homem valente, destemido, sofria de uma infecção crônica na perna direita e quando a dor ficava insuportável ele tomava de um canivete e abria a perna para escoar o pus da infecção. Com o tempo apareceu um câncer generalizado e ele se despediu deste mundo.

Bença, padrinho!