quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Receita de como fazer uma Capela



Fazia tempo que eu vinha acalentando a idéia de colocar um Crucifixo na entrada da Chácara do IPE, semelhante aqueles que se encontram nos Alpes, protegidos por um pequeno telhado e com flores enroscadas na base.

Na festa de Santa Rita de 2010, encontrei na Praça um vendedor de objetos entalhados em madeira, e entre seus produtos estava um Crucifixo de mais ou menos 1,50m, todo escurecido por betume, pretinho de dar gosto.Minha esposa e filha tentaram me desestimular da compra, mas não arredei pé e o levei para casa. Com calma, paciência e paixão fui retirando a camada de betume e aos poucos foi se deixando mostrar um Cristo bonito, bem talhado e todos ficamos surpresos com a revelação.





Coloquei-o numa peça de madeira e o finquei no caminho da gruta, lá na roça. Ficou bonito, sobranceiro, lá no alto, distribuindo sua benção e acolhendo os pássaros que vinham fazer algazarra em seus braços. Quinze dias depois ele estava trincado pelo excesso de sol e tive que retirá-lo para dentro da casa para fazer as devidas restaurações. E agora? Era temerário colocá-lo de volta, sob o sol, mesmo com proteção.








Existia ao lado um quiosque em forma hexagonal que há muito tempo foi churrasqueira e descanso para a piscina e que estava obsoleto porque eu desativei a piscina e mudei a churrasqueira para a área da cozinha. Estava aí o lugar ideal para a capela.
Passei a sonhar e fazer planos, igual a criança que espera um presente de Papai Noel. O plano era fazer algo bem rústico, com paredes de bambu amarrados por cordas de sisal. Queria fazer tudo com minhas mãos, ou bem ou mal, mas ter a alegria de sentir que “ fui eu quem fez“. Deus não quis assim, tive que viajar e o encarregado não cortou os bambus na lua correta. Reformulei os planos, mudei as idéias e aconselhado pela esposa, que não tinha confiança no trabalho que eu ia fazer, chamei um pedreiro.




A Capela ficou rústica montada com janelas simples adquiridas no ferro velho.







Obra pronta, ficou sob minha responsabilidade a pintura e a parte elétrica.





A decoração ficou a encargo da Rita e das filhas.







No altar, ao lado direito do Cristo, um estandarte da Sagrada Família , no centro Missal Romano, em latim, catado no lixo da Igreja, e no lado esquerdo um Divino, pintado e ornamentado pela Rita.









Nas paredes, quadros , com moldura em bronze, das orações que o sacerdote fazia ao celebrar as Missas em latim, também resgatados do lixo. Senti-me alegre e feliz como o Criador no sétimo dia da Criação: e vi que tudo era bom...

Assim se fez a Capela





terça-feira, 1 de novembro de 2011

A Morte da Saudade

  



Eu a encontrei caída, abatida sobre a terra que sempre lhe foi amiga, tombada sobre as flores que lhe embelezaram a vida. Eu não vi a sua morte, não presenciei a agonia, mas deduzo que foi dolorosa, que foi terrível ver-se lascada, partida em suas partes, num grito universal de dor. O vento veio forte como se fosse soprado pela boca de mil titãs. Ela lutou bravamente resistindo à força cruel que a fendia. Sacudiu a cabeleira de seus galhos jogando longe ninhos que os passarinhos pensaram estar em segurança e abrigo. O vento que a arrancou e a estraçalhou chorou com ela em respeito ao seu porte e sua luta.

Há quase 50 Anos ela viera das terras frias do Rosário, lá em Delfim Moreira, chacoalhando numa vemaguete azul. Papai, já doente e cansado, escolheu o lugar para ela ficar, e ela se tornou o sacramento da saudade, recordando o tempo feliz que passei com meu velho. Muitas vezes quiseram cortá-la com a desculpa de que estava tomando muito espaço, que era muito grande, mas a recordação de meu pai a manteve viva e a defendeu do machado assassino. Minha esposa contornou seu tronco com belas flores, formando um jardim aprimorado. Orquídeas foram presas em seus galhos e enfeitaram de cores as sombras alongadas. À tarde as sabiás, lá no alto dos galhos, enfunavam o peito para um canto gostoso que nós entendíamos como se estivesse chamando a Letícia.

Agora a gigante foi abatida, tombou solene, altiva, arrastando plantas menores, derrubando acerolas e sufocando goiabeiras. A terra estremeceu com o baque de seu corpo, porém meu coração estremeceu muito mais por causa da saudade que ela representava. Ela foi embora, acabou, mas a saudade ficou como aquele mosquitinho que a gente não vê mas perturba o nosso sono, um mosquito que a gente não consegue ver e muito menos matar.





Perdi a Pereira mais preciosa, a que recordava o amor de meu pai, mas olhando os últimos acontecimentos, me alegro porque Deus conservou a vida de meu neto e de minha nora; não vou mais degustar os frutos adocicados que ela todos os anos fornecia, mas vou conservar o sabor do sorriso e do carinhos dessas duas pessoas queridas. A vida é assim, Deus sempre ameniza as catástrofes.