sexta-feira, 24 de junho de 2011

Minhas duas mães.....



Deus sempre teve um carinho especial por mim, carinho particular, selecionado, mostrando-me que eu era o preferido. Nessa predileção Ele me concedeu a graça de ter duas mães aqui na terra, na mesma família, no mesmo sangue no mesmo DNA. Uma, a mãe Bemvinda, querida até no nome. Mulher humilde, mãe genitora. Mulher amável, longos cabelos, crespos, enrolados em coque dava-lhe ar matriarcal. Nas tardes serenas da Mantiqueira, nós assentávamos num banco de madeira e eu me deitava em seu colo para ouvir histórias contadas com carinho e exagero. Quantas mil vezes ela me defendeu, até nas grandes artes, de criança ou adolescente, mostrando preocupação por causa de meu “ tolatão” doente.


A outra foi a mãe ZICA, minha irmã a quem me apeguei de tal forma que não lhe dava sossego. Onde ela ia eu estava junto e sempre chamando-a de mãe, fato que a colocava em dificuldade para explicar. Naquela época em que o rapaz só pegava na mão da moça quando já eram noivos, com pedido de casamento assentado, imaginem o sufoco de minha irmã com um menino, pinto calçudo, agarrado a ela e lhe chamando de mãe. Mas a cidade era pequena, meus pais eram muito conhecidos, e todos sabiam que aquele cabelo encaracolado, rosto redondo, falando errado, era filho do Seu Dito da Farmácia.
 Quando o Zé da Venda começou a namorá-la achou estranho esse meu tratamento, mas aos poucos foi se acostumando e, tanto assim foi, que eles se tornaram meus padrinhos.

Ambas as mães me educaram e ensinaram a ser honesto, trabalhador e ter fidelidade religiosa. Guardo com devota emoção as lembranças recolhidas nas andanças da vida. Minha interação com madrinha Zica é muito intensa e dela sou filho, afilhado e compadre. São muitos os gestos de carinho e é com orgulho, santo orgulho, que eu tomo sua mão para beijar e pedir a benção.



terça-feira, 21 de junho de 2011

Hoje eu chorei




Mãe,

A senhora não viu

Mas hoje eu chorei.



Uma dor profunda tomou conta de mim,

e meu peito ardeu na queimadura de brasa viva.

E eu chorei

Chorei com saudades de repousar minha cabeça em seu colo,

De sentir o seu cheiro.

Chorei com saudades de seu carinho,

Daquela comidinha gostosa que a senhora preparava

quando eu chegava de férias

Senti saudades do café com leite na caneca de folha.

Senti saudades dos causos que a senhora contava

Nas noites frias de inverno aos pés do fogão de lenha.

Mãe,

A senhora não viu

Mas hoje eu chorei

Chorei com saudades de chorar nos seus braços



sexta-feira, 3 de junho de 2011

O Intruso






Não sei de onde ele veio e nem percebi para onde foi. Só sei que apareceu no meio da celebração eucarística, na Igreja repleta de fieis. Sua aparência era desleixada, mas não suja, rosto encovado pela magreza, calça jeans , jaqueta escura e sacola às costas. Nos pés uma sandália que não resguardava do frio das noites de maio.

Parou em frente o altar, ajoelhou-se, ergueu as mãos e orou. Oração silenciosa, acanhada, como quem pede desculpa por importunar a casa. Depois se dirigiu à imagem de Nossa Senhora e aí também fez sua oração. Não perturbou ninguém, a ninguém incomodou. De repente procuro e ele não estava mais lá, sumiu. Não sei se foi embora ou se permaneceu na Igreja, mas não o vi mais.

É interessante como todos nós temos sede de Deus, ricos e pobres, jovens e velhos, brancos e pretos, homens e mulheres. Deus é de todos e a todos acolhe, sem distinção.

Muitas vezes fazemos orações trabalhadas, escolhidas, teologicamente elaboradas, e ficamos apreensivos com a oração simples, despreocupada do João ninguém.

A nossa é como um ramalhete de flores, comprado nas floriculturas , em embalagem colorida, amarradas por fitas e com cartões de oferecimento. O João ninguém não traz embalagem, oferece a flor desprotegida, nua, sem enfeites.

Ambas orações são recebidas por Deus e são produzidas pela fé humana em seu desejo de agradecer, suplicar e adorar.

Ambas falam de amor e são produtos da fé, mas possuem roupagens diferentes e os olhos do mundo apreciam uma e a outra não. Aos olhos de Deus o seu valor depende da intensidade do coração e não do modo em que foi produzida, pois Ele conhece o coração das pessoas e o que ali está guardado e sua capacidade de amar.

Para chegar ao coração de Deus basta apenas AMAR.



O aquário e o homem




Estava admirando o aquário na casa de meu amigo. Peixes coloridos, alguns bonitos e outros feios, uns grandes e outros pequenos, nadando ligeiros entre as plantas que foram colocadas para oxigenar o ambiente, completando o trabalho de um aparelhinho que faz borbulhas na água. Meu amigo me contou que se aumentar o tamanho do aquário, e consequentemente, o seu volume de água, os peixes podem ficar maiores. Aquela porção de água cercada de vidro é o seu mundo, ali vivem, procriam, são acometidos de doenças, ficam velhos e morrem.

Voltei para casa meditando no que vi naquele aquário e de súbito percebi que moramos num aquário. As calçadas e praças cheias de gente, homens e mulheres, crianças e adultos, crianças e velhos, pretos, brancos, mulatos, morenos, louros e ruivos, todos somos peixes no gigantesco aquário que é a Terra. Aqui nascemos, crescemos e morremos, sem sair das dimensões do mundo que nos foram oferecidas.

O peixe do aquário não tem idéia do que é a imensidão do oceano, pois o aquário é quase um nada nessa comparação. O peixe do aquário entende que o mundo é aquilo que ele está vivendo, é o que ele vê.

Também nós nos prendemos a pensar que só existe este mundo em que estamos a respirar e não damos conta das maravilhas que Deus criou para além de nossas fronteiras.

O orgulho infla nosso comportamento e achamos que sabemos tudo, que de tudo somos donos e não conseguimos enxergar além dos limites do aquário. Não percebemos que estamos todos na mesma condição, limitados dentro de um mundo que podemos melhorar. Amar, perdoar, procurar deixar o mundo onde vivemos um pouco melhor do que antes da nossa passagem.