quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

De como chegar a Chácara do Ipê





Meu amigo, que mora longe, na cidade grande, queria conhecer a nossa chácara, e eu prazerosamente lhe escrevi dando o modo certo para ir lá.

No fim da reta do Dito Renó, lá onde o asfalto faz uma curva, pegue a direita numa estrada de terra, estrada boa, terra batida por rodas de carros e motocicletas, com muitas árvores e profusão de sombras. Não tenha pressa. Aprecie a paisagem que se modifica a cada curva.










 De um lado se vê gado branco caminhando em fila indiana como se estivesse em procissão. Estão á procura de sombras e logo mais estarão amontoados num mesmo lugar como aqueles bichinhos que vem nas caixinhas que a gente ganhava no Natal. Mais para frente, depois de uma descida larga, você verá casas brancas penduradas no morro, portas e janelas abertas para a luz, parecendo pintura dos Alpes.

É o bairro dos Pires, do lado direito é onde mora o seu Adelino. Gente boa , amiga e acolhedora, do lado esquerdo recoberto por árvores milenares está a Fazenda Pindorama do Sr Jorge Lemes falecido em 2000 , relíquia que Dona Dahyba, sua esposa, com oitenta e sete anos, não troca por dinheiro nenhum.

Continue a viagem e mais além passará por uma porção de casinhas á beira da estrada. Ali morou o Zequinha, pai do Giovane.São várias casas, todas de uma mesma família. Nem pense em parar aí, pois a turma é tão acolhedora que você não vai mais querer sair, principalmente se degustar os bolinhos de chuva que eles fazem.

Passe reto também pelo Vicente e pela Casa da Nana. Segure a tentação de parar para uma conversa com o pessoal que fica na entrada da Casa, em frente ao bambuzal. Esse é local de encontro da turma. Ai se vende e se compra de gado a galinhas, trocam-se carros e motos. Fala-se da vida, das pessoas, do tempo e do governo. Se não resistir á tentação de dar uma prosinha pode se aproximar.É uma obrigação social ouvir e participar.

Mas não demore, pois ainda tem caminho pela frente. A estrada fica cheia de vacas pelas margens, que mansamente cortam o capim verde para sua alimentação. São mansas e dão um bom leite. Pertencem ao Miguel, homem honesto e educado.

Agora se avista uma Igreja situada numa colina. É a Igreja de São José, o padroeiro do bairro, nela sempre há Missa e reza do terço e bonitas festas no mês de Junho. Pertinho dela fica a Escola Estadual. Em frente está a venda do Zé Pereira, homem atencioso, educado, de boa conversa. É ponto de parada obrigatória para todos. Aos domingos o lugar fica cheio de jovens. Pare aí, tome uma cerveja e convide os amigos para beber e eles vão lhe contar muitas histórias e fazer bastante perguntas e lhe indicarão o resto do caminho dizendo que está quase chegando, é só seguir o caminho reto e depois tomar a primeira encruzilhada á esquerda e encontrará uma bela cerca de sansão do campo, verde de doer nos olhos, de tão bonita. Ela serve de agasalho para ninhos de muitos pássaros.













As alamandas amarelas que enfeitam a entrada garantem que você chegou.Abra a porteira devagar, não a deixe bater senão machuca meu coração. Não precisa pedir licença, pois ninguém pede licença para entrar no céu, e nossa Chácara é um céu abençoado pela Virgem das Graças e Jesus Cristo. Se veio de carro coloque-o na garagem; se veio a cavalo, amarre o animal ao pé da goiabeira,mas tome cuidado para não machucar as orquídeas que enfeitam seu tronco.








Antes de entrar na casa vá até a gruta de Nossa Senhora das Graças e faça-lhe uma saudação. É dever de todos nós.

Puxe um banco, se aproxime, e saboreie o delicioso café que só a Rita sabe fazer. Você está em casa, aprecie as pereiras, que há mais de trinta anos vieram de Delfim Moreira, contemple os ipês amarelos como gema de ovo, as pitangas vermelhas como os lábios da mulher amada,os vários tipos de laranja . Mas não se esqueça de visitar as orquídeas, variadas nas cores e nas espécies. Elas são o dodói da Rita e a alegria da chácara.



domingo, 20 de fevereiro de 2011

Maria e a goiaba sem bicho





Raizes fortes que buscam o alimento para dar sabor e doçura aos frutos, tronco forte, enérgico, que sustenta galhos abertos, robustos, repletos de frutos adocicados. Frutos de aroma e sabor característicos, agridoces, de pele amarela e polpa vermelha.

Assim são as goiabeiras, providas de sombra para pássaros e orquídeas.

Tudo seria bom, os frutos seriam deliciosos, irresistíveis, se não fosse o intruso, pequeno diabinho que se alimenta de sua carne e apodrece seu sabor. Ninguém me explica de onde vem esse bichinho que todo ano perfura os frutos e estraga as goiabas.

O agrônomo me orientou a pulverizar as flores com uma mistura específica de alguns ingredientes químicos, e meu vizinho me aconselhou a envolver cada fruto, ainda pequenino, com saquinhos de papel. Tinha que se evitar a contaminação logo no início da fecundação, antes de se tornar fruto, pois depois disso o bichinho já se achava instalado.

Nós somos como os frutos da goiaba, produtos de uma árvore poderosa, resistente, de galhos firmes. Somos frutos saborosos de perfume característico, atraentes e desejados como beleza e alimento.

Iguais às goiabas nós já nascemos com um bicho instalado em nosso interior,o pecado original, bichinho voraz que roe nossa carne e se alimenta de nossa vida,

Para evitar essa contaminação deve-se ir lá no início da concepção e matar o invasor.

O estudo dos frutos da goiabeira me levou a meditar sobre a concepção imaculada de Maria.

Foi assim que Deus agiu com Maria, a Mãe de Jesus. Ele queria uma mulher que não tivesse pecado para ser a Mãe de Jesus Como competente agrônomo Ele buscou um casal de idade avançada, Joaquim e Ana, sem filhos. A mulher, estéril, se engravidou na velhice e deu á luz uma menina, Maria, que , por obra e vontade de Deus, foi preservada da contaminação do pecado, nasceu sem mancha, por isso se diz imaculada.

Goiabinha sem defeito, sem bicho, apresentando o sabor puro da fruta primitiva. Diferente de todas as outras, tanto em beleza como em sabor.

Só Maria mereceu essa graça.



quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Show da terra, no Céu







DÁ LICENÇA , SENHOR! Pode entrar, Romeu! Aqui você não precisa pedir licença, não. Quem vem para o Céu é porque faz parte da família. Entre, a sua casa está pronta, reúna-se a nós. Já o estávamos esperando. A voz de São Pedro, que o convidava, era forte e ao mesmo tempo suave. Ele bate palma três vezes e um anjo translúcido aparece carregando uma veste e Romeu se reveste de luz.

O ambiente é calmo, de uma luminosidade que ele nunca havia visto, luz forte sem doer nos olhos, sem causar desassossego. Luz que traz paz, embora haja muitos sons. Não há sol nem lua para iluminar, mas apenas essa luz que vinha de uma fonte que envolvia tudo, como se tudo morasse dentro dela.

Um pequeno anjo, de harpa nas mãos, pois harpa é o instrumento dos anjos, puxa a túnica de São Pedro e lhe pergunta se era “ aquele que faltava” e aponta para um lugar distante onde estavam várias pessoas, todas revestidas de luz, e com instrumentos na mão. Com os olhos da alma, que tudo vêem, ele reconheceu, um por um, seus companheiros do Jazz Brasil, o seu Alan, o Zequinha Major, seu Zito, seu Carmelo e seu filho, o professor João e tantos outros. De repente sua veste explodiu na luz de tanta alegria quando percebeu vindo ao seu encontro, com um sorriso franco, de cavaquinho na mão, o Zé Seda, cunhado e companheiro de muitas músicas. O aperto de mão não foi aperto de mão, o abraço não foi abraço, foi um penetrar de luz dentro de outra luz. Não soube explicar mas, assim, do nada, surgiu um saxofone em sua mãos, era O SEU sax alto marca King que tanto usara na terra.

E lá estava ele, junto com antigos companheiros, num palco de nuvens coloridas, azuis, formando o piso, e avermelhadas, alaranjadas, erguendo-se em dosséis. A música Moonlight Serenade saiu livre, leve e envolveu todo o céu. Não havia alto falantes e nem fios, mas ela estava em todo lugar e eis que ao mesmo tempo, o cavaquinho de Zé Seda, acompanhado por Zé Niquinha e Morais, rompe com os acordes da valsa Subindo ao Céu, e ele, Romeu, estava tanto no Jazz Brasil como no trio do Zé Seda, tocando em ambos, sem perder o rítmo e sem misturar as melodias.

Um anjinho comentou eufórico: Como é lindo o SHOW DA TERRA! E os anjos se puseram a dançar......