domingo, 25 de dezembro de 2011

Assim vai ser, e assim será



Não consigo entender o mecanismo das emoções, porque vem, para que vem e o que elas são realmente. Só sei que posso senti-las, algumas calmas, serenas, como a brisa que empurra o dia para traz dos montes, outras são violentas, amedrontadoras como a tempestade de raios e trovões. São tatuagens que carrego visíveis em meu corpo e na alma, exposta nos olhos e nos lábios. No fundo do baú, num escuro que presumo que nunca será alcançado, escondo mágoas e maldades, e tranco essas emoções com medo de fantasmas. Dá vontade de passar uma esponja e apagar certos acontecimentos, ou então fechar os olhos e mentir que foi sonhando, sonhando um pesadelo.

Todas as vezes que vou à Chácara do Ipe volta a minha memória o acidente de meus familiares, carregado com a mesma emoção do dia do acontecido. Não importa as orações que tenho feito ou as conversas em torno da mesa da cozinha, não importa saber que eles estão salvos, se restabelecendo com segurança, não importa entender que Deus agiu de forma extraordinária, fazendo o milagre da Vida. A emoção não acredita em racionalização e irrompe enérgica como o tigre que sai da toca e salta sobre a vítima. Como novo Adamastor com “ rosto carregado, a barba esquálida, os olhos encovados e a postura medonha e má, a boca negra e os dentes amarelos”, com seus olhos vermelhos e, a fauce escancarada, arrasta consigo um turbilhão de recordações, que embaralham os sentidos. A cena é toda revivida, detalhe por detalhe, dor por dor. Sei que vou superar, com a benção de Deus, o sentido doloroso desse acontecimento e deixar que a memória, a recordação, flua calma como o dia depois da tempestade.Vai restar a lembrança do que houve, o registro da memória não se apaga, mas a emoção de dor e sofrimento desaparecerá. É como olhar para uma faca e saber que ela já me cortou, mas que agora eu a domino com mais precaução.

E Assim vai ser, e assim será

domingo, 18 de dezembro de 2011

O Natal começou quando Maria disse SIM.




No momento em que o anjo visitou a donzela orante, no momento em que ela, respeitosa à vontade de Deus, deu o seu consentimento, houve uma grande modificação no mundo. Como um raio que percorresse o espaço, da terra e do céu, carregando em sua energia a promessa de Paz e de Vida, o SIM, pronunciado como oração, envolveu e revolucionou a humanidade. A partir dele o antigo deu lugar ao novo, as trevas foram afastadas pela luz e o dia da glória, o dia do Senhor apontou radioso no horizonte. Maria entrega a Deus a sua humanidade, humilde e criada, para que Ele a enobreça. Foi necessário que Deus se fizesse carne para que nossa carne pudesse entender a mensagem que vinha sendo anunciada desde a criação do mundo. O sim murmurado em prece é uma melodia que percorre todos os quadrantes e vai explodir na manjedoura de Belém no solene canto dos anjos que anunciam que o sim se tornou Deus e Deus se tornou homem. Jesus assume sua humanidade em todas as circunstância e etapas da vida afim de santificar todos os momentos da vida.

Antes de aparecer sua humanidade, antes do nascimento em Belém, o Amor já existia, pois ele é eterno, e estava nEle sendo Ele, mas poucos acreditaram porque estava oculto. Mas agora ele se revelou, manifestando-se na humanidade e a Paz se tornou realidade. Que mistério maravilhoso de um Deus criador que se utiliza de sua criatura para se fazer filho. Maria é mãe verdadeira de um Deus que é seu filho, embora sendo Ele o seu criador. Como pode Deus Criador, que não tem princípio e nem fim, sair da profundidade infinita das coisas não criadas e vir se estabelecer, como filho, descendente e dependente, de uma carne, sujeito a ter fim. Já que transporta em seu seio um Deus perfeito, Maria foi um templo sagrado, resvalando para o divino sem deixar de ser humana.

Não há dúvida de que o amor que levou um Deus a se encarnar na humanidade foi muito forte e Ele teve que lutar contra os desafios de um inimigo que tentava destruí-Lo. Esse inimigo, o separador, di-abolo, não sabia onde estavam os limites de sua humanidade e de sua divindade.



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Receita de como fazer uma Capela



Fazia tempo que eu vinha acalentando a idéia de colocar um Crucifixo na entrada da Chácara do IPE, semelhante aqueles que se encontram nos Alpes, protegidos por um pequeno telhado e com flores enroscadas na base.

Na festa de Santa Rita de 2010, encontrei na Praça um vendedor de objetos entalhados em madeira, e entre seus produtos estava um Crucifixo de mais ou menos 1,50m, todo escurecido por betume, pretinho de dar gosto.Minha esposa e filha tentaram me desestimular da compra, mas não arredei pé e o levei para casa. Com calma, paciência e paixão fui retirando a camada de betume e aos poucos foi se deixando mostrar um Cristo bonito, bem talhado e todos ficamos surpresos com a revelação.





Coloquei-o numa peça de madeira e o finquei no caminho da gruta, lá na roça. Ficou bonito, sobranceiro, lá no alto, distribuindo sua benção e acolhendo os pássaros que vinham fazer algazarra em seus braços. Quinze dias depois ele estava trincado pelo excesso de sol e tive que retirá-lo para dentro da casa para fazer as devidas restaurações. E agora? Era temerário colocá-lo de volta, sob o sol, mesmo com proteção.








Existia ao lado um quiosque em forma hexagonal que há muito tempo foi churrasqueira e descanso para a piscina e que estava obsoleto porque eu desativei a piscina e mudei a churrasqueira para a área da cozinha. Estava aí o lugar ideal para a capela.
Passei a sonhar e fazer planos, igual a criança que espera um presente de Papai Noel. O plano era fazer algo bem rústico, com paredes de bambu amarrados por cordas de sisal. Queria fazer tudo com minhas mãos, ou bem ou mal, mas ter a alegria de sentir que “ fui eu quem fez“. Deus não quis assim, tive que viajar e o encarregado não cortou os bambus na lua correta. Reformulei os planos, mudei as idéias e aconselhado pela esposa, que não tinha confiança no trabalho que eu ia fazer, chamei um pedreiro.




A Capela ficou rústica montada com janelas simples adquiridas no ferro velho.







Obra pronta, ficou sob minha responsabilidade a pintura e a parte elétrica.





A decoração ficou a encargo da Rita e das filhas.







No altar, ao lado direito do Cristo, um estandarte da Sagrada Família , no centro Missal Romano, em latim, catado no lixo da Igreja, e no lado esquerdo um Divino, pintado e ornamentado pela Rita.









Nas paredes, quadros , com moldura em bronze, das orações que o sacerdote fazia ao celebrar as Missas em latim, também resgatados do lixo. Senti-me alegre e feliz como o Criador no sétimo dia da Criação: e vi que tudo era bom...

Assim se fez a Capela





terça-feira, 1 de novembro de 2011

A Morte da Saudade

  



Eu a encontrei caída, abatida sobre a terra que sempre lhe foi amiga, tombada sobre as flores que lhe embelezaram a vida. Eu não vi a sua morte, não presenciei a agonia, mas deduzo que foi dolorosa, que foi terrível ver-se lascada, partida em suas partes, num grito universal de dor. O vento veio forte como se fosse soprado pela boca de mil titãs. Ela lutou bravamente resistindo à força cruel que a fendia. Sacudiu a cabeleira de seus galhos jogando longe ninhos que os passarinhos pensaram estar em segurança e abrigo. O vento que a arrancou e a estraçalhou chorou com ela em respeito ao seu porte e sua luta.

Há quase 50 Anos ela viera das terras frias do Rosário, lá em Delfim Moreira, chacoalhando numa vemaguete azul. Papai, já doente e cansado, escolheu o lugar para ela ficar, e ela se tornou o sacramento da saudade, recordando o tempo feliz que passei com meu velho. Muitas vezes quiseram cortá-la com a desculpa de que estava tomando muito espaço, que era muito grande, mas a recordação de meu pai a manteve viva e a defendeu do machado assassino. Minha esposa contornou seu tronco com belas flores, formando um jardim aprimorado. Orquídeas foram presas em seus galhos e enfeitaram de cores as sombras alongadas. À tarde as sabiás, lá no alto dos galhos, enfunavam o peito para um canto gostoso que nós entendíamos como se estivesse chamando a Letícia.

Agora a gigante foi abatida, tombou solene, altiva, arrastando plantas menores, derrubando acerolas e sufocando goiabeiras. A terra estremeceu com o baque de seu corpo, porém meu coração estremeceu muito mais por causa da saudade que ela representava. Ela foi embora, acabou, mas a saudade ficou como aquele mosquitinho que a gente não vê mas perturba o nosso sono, um mosquito que a gente não consegue ver e muito menos matar.





Perdi a Pereira mais preciosa, a que recordava o amor de meu pai, mas olhando os últimos acontecimentos, me alegro porque Deus conservou a vida de meu neto e de minha nora; não vou mais degustar os frutos adocicados que ela todos os anos fornecia, mas vou conservar o sabor do sorriso e do carinhos dessas duas pessoas queridas. A vida é assim, Deus sempre ameniza as catástrofes.

sábado, 27 de agosto de 2011

A garganta do Embaú




Lá pela época dos anos 40, no século passado, era comum ir para Aparecida, que na época era Aparecida do Norte, numa viagem de trem. Era uma viagem longa e complicada, saindo de madrugada e fazendo a primeira baldeação, troca de composição férrea, em Soledade de Minas. Dalí seguíamos para Passa Quatro e depois Cruzeiro, já no estado de São Paulo, onde passávamos para a E.F.Central do Brasil e íamos para o destino. De Passa Quaro a Cruzeiro passávamos pelo grande túnel da Garganta do Embaú, muito conhecido por causa do massacre dos paulistas que, na revolução de 1932, tentaram invadir Minas Gerais passando através dele.

A serra da Mantiqueira é uma defesa natural do território mineiro e na época do Brasil Colônia foi um desafio para a escoação do ouro que se fazia através de Parati, entreposto comercial, no fundo da baía da Ilha Grande. O caminho terrestre que partia de Paraty, seguia por Guaratinguetá, passava pela Freguesia da Piedade (atual Lorena), vencia a Garganta do Embaú e chegava a Minas Gerais: era o chamado ”Caminho do Ouro da Piedade.”



Mario Lucio Sapucahy afirma que “ era extremamente difícil transpor a Serra da Mantiqueira por outro ponto que não fosse a Garganta do Embaú. Tal garganta não passa de uma depressão no espigão da Serra da Mantiqueira, local por onde se fazia a ligação entre as terras mineiras e o Vale do Paraiba”.

Lá no alto, marcando a divisa entre os estados de São Paulo e de Minas Gerais, existe uma cruz, a Cruz do Embaú, que em 1720 os mineiros trouxeram do monte Caxambu. Mudando-se, matreiramente, o lugar da cruz, Minas ganhou toda a região da Serra Alta da Mantiqueira.






Para fiscalizar as pessoas que procuravam esse caminho em busca do comércio de São Paulo, Parati e Rio de Janeiro e para combater assaltos e também para evitar o contrabando de ouro e pedras preciosas que saiam de Minas, o governo instalou, na divisa entre a Província de Minas e de São Paulo, o Registro do Embaú, patrulhado pelo corpo da tropas pagas de Vila Rica. Registro era o ponto de fiscalização.

Em março de 1822, Saint-Hilaire, passou pela garganta e se hospedou no Registro.

“ O Registro da Mantiqueira foi colocado mesmo na raiz da serra e compõe-se da casa da barreira, ocupada pela repartição e dum rancho, no qual fica a balança onde se pesam as mercadorias vindas do Rio de Janeiro. Essas construções localizam-se em torno de um grande pátio, fechado do lado da montanha por uma porta de madeira. Como existe o projeto de se mudar o traçado da estrada, não se fez, desde algum tempo, o menor reparo nas casas do Registro que estão, atualmente, quanto muito, habitáveis,”



Assim, também, formou-se outro Registro importante localizado onde hoje é a cidade de Pouso Alegre e se chamava Registro do Mandu, instalado com a finalidade de controlar o comércio e transporte do ouro retirado de Santana do Sapucaí, atual Silvianópolis, e de São Francisco das Chagas de Ouro Fino.

Com a demarcação entre as províncias de Minas Gerais e São Paulo ainda indefinida, Francisco Martins Lustosa e Veríssimo João de Carvalho tomaram posse do descoberto de Santana do Sapucaí e Ouro Fino, e foram nomeados pelo governador de São Paulo, respectivamente, guarda-mor e intendente das minas.

Mais tarde Gomes Freire de Andrade, "mandou que, por ordem sua, fosse tomada posse de todas aquelas terras minerais, estabelecendo uma guarda no Sapucaí e um Registro no Mandu". Com essa medida o governador da província de Minas Gerais esperava resolver definitivamente a questão. Não obstante, continuou encontrando resistência por parte dos paulistas.

A criação de um Registro, muito antes da criação da freguesia, indica que um povoado antigo se formou lentamente às margens do rio. Um lugarejo relativamente populoso que justificava o estabelecimento de um Registro do Ouro no lugar. A presença de certo número de guardas nesse posto fiscal faz crer que seria um Registro de grande movimento, porque por ali passava o único caminho conhecido pelos viajantes, entre Vila Rica e São Paulo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

PEÇA CONTAMINADA


OLHA QUE TRISTEZA! O rapaz estava entristecido, olhando a imagem em cima da mesa. Imagem bonita,de madeira, talhada com esmero, de cortes precisos. Quem a esculpiu era um grande artista, seus traços eram vigorosos, enérgicos e transmitiam movimento á peça. Peça velha, antiga, escura pelo tempo. Tudo parecia perfeito........mas ela estava bichada. O caruncho tinha corroído todo o seu interior, cavou tanto que agora ela era apenas uma casca frágil e delicada, se apertasse com força ficaria em frangalhos. Quando aparecia apenas um buraquinho, alguém o aconselhou a dar um bom banho com querozene, mas isso nada adiantou. Os bichinhos ainda roíam.... No início foi apenas um bichinho que penetrou na madeira. Coisinha pouca, mole, frágil que poderia ser esmagado com o dedinho da mão. Agora é um batalhão de devoradores, roendo sem parar. O técnico em extirpação de cupins disse que era preciso colocar a peça numa estufa com venenos especiais e submeter a fortes temperaturas. Outro aconselhou a desistir, peça que pega cupim só serve para o fogo. A peça era muito bonita e o rapaz não queria perde-la.


Com a nossa vida acontece coisa semelhante.

Somos obras de beleza trabalhadas pelo cinzel das mãos divinas do Criador. Nada se iguala a nós e o salmista diz que somos maiores do que os anjos. Nosso corpo é perfeito em seu conjunto, bonito em sua forma, harmonioso em suas linhas.Todo o universo foi preparado para servir de berço para o homem.

Mas eis, que por descuido, o bichinho voraz da maldade, com todas as suas sete tenazes, rompe a harmonia e corrói o nosso interior, e a maldade se instala faminta alimentando-se do corpo e da alma. Começa com apenas um , mas depois outros diabinhos se juntam e a desgraça está armada. Eles corroem, põem amargura na vida, minam a fortaleza interior, envenenam as ações e transformam a vida em morte. E de repente a gente é só uma casquinha superficial, sem conteúdo, sem cerne, coisinha frágil que se quebra em qualquer dificuldade. Para matar esses diabinhos roedores da paz, da harmonia e do amor é necessário submeter-se á ação inseticida da oração e do jejum, na palavra de Cristo. Sempre corremos o perigo da contaminação, e se a gente se descuidar ele invade e toma tudo numa só bocada. Muitas vezes nos iludimos quando ele se apresenta numa aparência frágil e delicada, de carne rosada e atraente, fala suave e melodiosa. Mas não podemos nos iludir: a maldade se reveste também de beleza para seduzir...





sábado, 23 de julho de 2011

INSONIA


A noite estava se alongando mais do que eu gostaria. A televisão já não mais me atraia, tinha assistido filmes e documentários, filmes antigos, repetidos, que a emissora dizia que eram inéditos e documentários cansativos, sem interesse.O sono não chegava, tinha perdido o rumo de meus olhos, esquecera meu endereço. Devorei capítulos de livros que durante o dia achei interessante, mas, mas que agora não tinha nenhum atrativo. Lembrei-me de um conto que li h muito tempo, parece-me que era de Erico Veríssimo, sobre um homem que teve insônia e acabou indo até em um velório. Mas, ali, na Chácara do Ipê, na Cachoeirinha, não tinha rua para passear, bar para bebericar e nem velório.


A tradição da insônia manda contar carneirinhos e me pus a imaginar como seria esse processo se não havia carneiros, bodes, cabritos e bezerros lá na chácara. Lembrei-me da auto-sugestão que é um tipo de hipnotizar a si mesmo. Houve uma época em que eu era um bom hipnotizador, foi quando estudava psicologia, e praticava a hipnose em meus sobrinhos. Um deles deixou de fumar pela sugestão hipnótica, o outro ficou tão dependente de mim que eu segurava sua mão, assim numa boa, e dizia que ele não iria conseguir tirá-la da minha, e ele não conseguia mesmo. Imaginei ser fácil fazer a auto sugestão, e bestamente me pus a dizer, como se fosse um mantra, “ você vai dormir”, “você vai dormir”. Mas tinha me esquecido de uma coisa, para a hipnose fazer efeito é preciso acreditar nela e eu não estava acreditando nadinha. Cansei e não dormir.

Resolvi fazer um chá. Mamãe, e também a Rita, sempre falaram que um chá de erva cidreira de capim, ótimo para acalmar o espírito e fazer o sono chegar. Fui ao quintal levando uma lanterna barata, comprada na barraquinha da festa de Santa Rita, daquelas lanternas de leds, recarregáveis, para alumiar, e, com tesoura, cortei algumas folhas de erva cidreira. A noite estava de céu limpo, estrelas assustadoramente brilhantes, a lua era um enorme queijo mineiro, branquinho e suculento, servido numa mesa azul. Aquela apresentação deslumbrante espantava mais ainda a chegada do sono. Fervi a água, sem deixar fazer muitas bolhas para não perder o oxigênio, e deitei as folhas colhidas. Que desastre! Não eram de erva cidreira. No desleixo que a falta de sono causa, no desespero de querer dormir, tinha colhido folhas de citronela. Eu percebi uma vantagem no que estava acontecendo, iria ver o sol nascer, lá no terraço, lugar alto, de vista privilegiada. Abri uma cadeira espreguiçadeira, acomodei-me com conforto, de frente para o nascente e pus-me a esperar o nascer do sol. Teria em meu currículo o fabuloso espetáculo do sol se erguendo atrás da montanha. Acordei já com sol alto, e a Rita me sacudindo perguntando a razão de não ter dormido na cama...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Minhas duas mães.....



Deus sempre teve um carinho especial por mim, carinho particular, selecionado, mostrando-me que eu era o preferido. Nessa predileção Ele me concedeu a graça de ter duas mães aqui na terra, na mesma família, no mesmo sangue no mesmo DNA. Uma, a mãe Bemvinda, querida até no nome. Mulher humilde, mãe genitora. Mulher amável, longos cabelos, crespos, enrolados em coque dava-lhe ar matriarcal. Nas tardes serenas da Mantiqueira, nós assentávamos num banco de madeira e eu me deitava em seu colo para ouvir histórias contadas com carinho e exagero. Quantas mil vezes ela me defendeu, até nas grandes artes, de criança ou adolescente, mostrando preocupação por causa de meu “ tolatão” doente.


A outra foi a mãe ZICA, minha irmã a quem me apeguei de tal forma que não lhe dava sossego. Onde ela ia eu estava junto e sempre chamando-a de mãe, fato que a colocava em dificuldade para explicar. Naquela época em que o rapaz só pegava na mão da moça quando já eram noivos, com pedido de casamento assentado, imaginem o sufoco de minha irmã com um menino, pinto calçudo, agarrado a ela e lhe chamando de mãe. Mas a cidade era pequena, meus pais eram muito conhecidos, e todos sabiam que aquele cabelo encaracolado, rosto redondo, falando errado, era filho do Seu Dito da Farmácia.
 Quando o Zé da Venda começou a namorá-la achou estranho esse meu tratamento, mas aos poucos foi se acostumando e, tanto assim foi, que eles se tornaram meus padrinhos.

Ambas as mães me educaram e ensinaram a ser honesto, trabalhador e ter fidelidade religiosa. Guardo com devota emoção as lembranças recolhidas nas andanças da vida. Minha interação com madrinha Zica é muito intensa e dela sou filho, afilhado e compadre. São muitos os gestos de carinho e é com orgulho, santo orgulho, que eu tomo sua mão para beijar e pedir a benção.



terça-feira, 21 de junho de 2011

Hoje eu chorei




Mãe,

A senhora não viu

Mas hoje eu chorei.



Uma dor profunda tomou conta de mim,

e meu peito ardeu na queimadura de brasa viva.

E eu chorei

Chorei com saudades de repousar minha cabeça em seu colo,

De sentir o seu cheiro.

Chorei com saudades de seu carinho,

Daquela comidinha gostosa que a senhora preparava

quando eu chegava de férias

Senti saudades do café com leite na caneca de folha.

Senti saudades dos causos que a senhora contava

Nas noites frias de inverno aos pés do fogão de lenha.

Mãe,

A senhora não viu

Mas hoje eu chorei

Chorei com saudades de chorar nos seus braços



sexta-feira, 3 de junho de 2011

O Intruso






Não sei de onde ele veio e nem percebi para onde foi. Só sei que apareceu no meio da celebração eucarística, na Igreja repleta de fieis. Sua aparência era desleixada, mas não suja, rosto encovado pela magreza, calça jeans , jaqueta escura e sacola às costas. Nos pés uma sandália que não resguardava do frio das noites de maio.

Parou em frente o altar, ajoelhou-se, ergueu as mãos e orou. Oração silenciosa, acanhada, como quem pede desculpa por importunar a casa. Depois se dirigiu à imagem de Nossa Senhora e aí também fez sua oração. Não perturbou ninguém, a ninguém incomodou. De repente procuro e ele não estava mais lá, sumiu. Não sei se foi embora ou se permaneceu na Igreja, mas não o vi mais.

É interessante como todos nós temos sede de Deus, ricos e pobres, jovens e velhos, brancos e pretos, homens e mulheres. Deus é de todos e a todos acolhe, sem distinção.

Muitas vezes fazemos orações trabalhadas, escolhidas, teologicamente elaboradas, e ficamos apreensivos com a oração simples, despreocupada do João ninguém.

A nossa é como um ramalhete de flores, comprado nas floriculturas , em embalagem colorida, amarradas por fitas e com cartões de oferecimento. O João ninguém não traz embalagem, oferece a flor desprotegida, nua, sem enfeites.

Ambas orações são recebidas por Deus e são produzidas pela fé humana em seu desejo de agradecer, suplicar e adorar.

Ambas falam de amor e são produtos da fé, mas possuem roupagens diferentes e os olhos do mundo apreciam uma e a outra não. Aos olhos de Deus o seu valor depende da intensidade do coração e não do modo em que foi produzida, pois Ele conhece o coração das pessoas e o que ali está guardado e sua capacidade de amar.

Para chegar ao coração de Deus basta apenas AMAR.



O aquário e o homem




Estava admirando o aquário na casa de meu amigo. Peixes coloridos, alguns bonitos e outros feios, uns grandes e outros pequenos, nadando ligeiros entre as plantas que foram colocadas para oxigenar o ambiente, completando o trabalho de um aparelhinho que faz borbulhas na água. Meu amigo me contou que se aumentar o tamanho do aquário, e consequentemente, o seu volume de água, os peixes podem ficar maiores. Aquela porção de água cercada de vidro é o seu mundo, ali vivem, procriam, são acometidos de doenças, ficam velhos e morrem.

Voltei para casa meditando no que vi naquele aquário e de súbito percebi que moramos num aquário. As calçadas e praças cheias de gente, homens e mulheres, crianças e adultos, crianças e velhos, pretos, brancos, mulatos, morenos, louros e ruivos, todos somos peixes no gigantesco aquário que é a Terra. Aqui nascemos, crescemos e morremos, sem sair das dimensões do mundo que nos foram oferecidas.

O peixe do aquário não tem idéia do que é a imensidão do oceano, pois o aquário é quase um nada nessa comparação. O peixe do aquário entende que o mundo é aquilo que ele está vivendo, é o que ele vê.

Também nós nos prendemos a pensar que só existe este mundo em que estamos a respirar e não damos conta das maravilhas que Deus criou para além de nossas fronteiras.

O orgulho infla nosso comportamento e achamos que sabemos tudo, que de tudo somos donos e não conseguimos enxergar além dos limites do aquário. Não percebemos que estamos todos na mesma condição, limitados dentro de um mundo que podemos melhorar. Amar, perdoar, procurar deixar o mundo onde vivemos um pouco melhor do que antes da nossa passagem.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

2 DE MAIO, 190 ANOS DE PRESENÇA E BENÇÃOS DA IMAGEM DE SANTA RITA






Estamos a comemorar este ano 190 anos de posse da imagem de Santa Rita de Cassia. Não há duvida de que é um momento de alegria e felicidade por tantas bênçãos que nossa padroeira tem alcançado para nós.

A história da chegada e fixação da imagem em nossa terra é singela e até mesmo poética com o colorido das bênçãos de Deus.

Houve uma época, 1808, em que a família real de Portugal veio para o Brasil fugindo dos ataques de Napoleão Bonaparte. Com a queda de Napoleão, os países que ele tinha conquistado voltaram a viver sua vida independente.

Como a família real estava no Brasil os espanhóis tentaram tomar Portugal para eles, e houve lutas sangrentas entre portugueses e espanhóis e muitos portugueses se entregaram aos invasores aceitando o domínio. Uma região fronteira a Espanha se conservou fiel ao governo português e por isso seu povo foi perseguido, caçado e aprisionado. Muitos fugiram para o Brasil amparados pela proteção de D, João VI que agora era o rei de Portugal.

D. João resolve trazê-los para o Brasil. Em 1815, vieram cerca de 300 refugiados oriundos da serra de Gerez ( Vimiato, Badajos e Olivença). Entre eles vinha o casal José Manoel da Fonseca de 45 anos e Janubeva Maria Martins da Fonseca, 28 anos, com dois filhos Antonio, 16 anos, e Rita de Cássia, 12 anos.

Traziam em sua bagagem, cuidadosamente escondido da sanha dos aventureiros, uma pequena imagem de Santa Rita de Cássia, obra portuguesa em madeira. Aportaram no Rio de Janeiro e dali o casal e filhos optaram por Minas Gerais vindo residir na vila de Baependi.

Com os recursos trazidos de Olivença foi adquirida uma propriedade com ponto de negócio. Manoel, por ser de poucas letras, se encarregou da horta que fizera no terreno dos fundos da casa e seu filho Antonio ficou com a responsabilidade do comércio de coisas e gêneros da terra.

O comércio prosperou e após seis anos de propriedade no comércio eles partiram em busca do sonho de ter uma gleba de terra só para eles. Além das economias de seis anos, eles contavam também com a promessa que D. João fizera aos desalojados do Contestado. Cheio de esperança partiram a procura de um rincão aplausível.

Quando a família de Manoel da Fonseca chegou nesta parte da Mantiqueira encontrou uma razoável população No entanto nem toda a terra tinha dono, pois uma fatia devoluta de cerca de 500 alqueires ainda estava sem posse. Era terra da vertente do ribeirão do Mosquito, caminho e pousada de índios e escravos foragidos que se acampavam perto da lagoa do Bicho. Acima da lagoa foi construído, mais tarde, um ponto dos barqueiros, em frente ao Pouso Danta ( atual fazenda Santa Rita ).

Foi nessa terra que se estabeleceu Manoel da Fonseca - cuidando de cultivar a terra e fazer comércio com os habitantes da região.

A terra era boa, o clima salutar,água em abundância. Pequeno vale na região em que os índios Tupinambas chamavam de sapucahy. Há duas interpretações para a palavra sapucaí: uma é ”água que chora” originada da lingua indígena “hy” significa água e “sapuca” que significa choro; outra interpretação está baseda no dicionário do Pe. José de Anchieta e significa “água que grita”, tanto por causa das cacheiras existentes na cabeceira do rio , como também por causa dos inúmeros salgueiros chorões em suas margens remansadas.

O trabalho na terra e a proximidade de muitos brejos adoeceram o corpo cansado de um homem de mais de cinqüenta anos e sua esposa, devota piedosa de Santa Rita promete lhe um quinhão de terra e uma capela, em favor da saúde de Manoel. Recuperada a saúde, Manoel José da Fonseca fez vir a sua presença o Alferes João Pedro Lima, pedindo-lhe que redigisse um documento de doação de terra para a ereção de uma capela em louvor à Santa Rita. No dia 2 de maio de 1821 Manoel José da Fonseca e Janubeva Maria Martins lavram a doação de oito alqueires de terra para se edificar a Capela de Santa Rita. A doação foi feita de forma solene, tendo como testemunhas os mais renomados proprietários de terras como o capitão Braz Fernandes Ribas dono de extensa sesmaria, o Capitão Manoel Joaquim Pereira, João Pereira de Lima e Francisco da Palma.

Enquanto não se construía a capela a imagem ficou no oratório da residência do capitão Braz Fernandes Ribas que possuía a regalia eclesiástica de ter uma pia batismal, e onde se celebravam as Missas na visitação paroquial, principalmente do Pe. Mariano Accioli de Albuquerque

No dia 22 de maio de 1825, quinta feira do tempo comum, o padre Mariano Acioli de Albuquerque, vigário de Santa Catarina, atual Natercia, benzeu a capela e celebrou a primeira Missa. A Imagem foi trazida em procissão e cantoria, pelos habitantes da região, desde a sede da fazenda do Mosquito, residência de Manoel. Foi a primeira festa de Santa Rita. A procissão que trazia a Santa demorou uma hora pelos caminhos pois todos queriam tocar a Santa, ofereciam alimentos, vinténs e patacões. Nascia, nesse dia, o arraial de Santa Rita.




quinta-feira, 14 de abril de 2011

O Óculos e a Flor



Abandonados no fim da mesa

O óculos conversa com a flor:



- Veja como sou feliz!

Eu encontro os caminhos

Através dos olhos dela.

Sou forte, sou luz,.

E também sou janela.

Eu conheço o seu rosto

E entendo seu sonhar

E é através de mim

Que tem luz o seu olhar.



- Não importa – diz a flor,

Se tu tens o seu olhar,

Pois eu vivo em seu colo,

Me aconchego em seu peito

E conheço seu arfar.

Você vê os seus caminhos,

Você é a sua janela,

Mas eu sou o porto de esperança

Ancoradouro do amor

junto ao coração dela.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Venus Calipígia




Estava lendo uma revista trazia assuntos variados desde livros condensados e humor ameno até teste com palavras que normalmente não se usam na conversa comum e que parecem colhidas como frutos raros de uma árvore incomum. Ela afirma que essas palavras esdrúxulas são para enriquecer o vocabulário.

Quando era estudante do IMEE conheci uma garota que só usava palavras difíceis, daquelas que a gente não usa normalmente. Acho que assim fazia para acreditarmos que era uma pessoa culta. Ela ficou com o apelido de Miss Dicionário.

Tadinha, ninguém gostava de conversar com ela.

A revista pergunta pelo significado de calipigia e essa palavra destravou as trancas de minha memória , tomou-me pela mão e fomos para a época de faculdade, para um grosso livro sobre a história da arte. Esse livro exibia a foto de uma estatua grega representando uma mulher que levanta inocentemente o manto para que seu traseiro coloque à mostra os quadris e nádegas . Ela olha para trás e para baixo por sobre o ombro, talvez fazendo uma avaliação . A estátua é conhecida como a Venus Calipigia, e está exposta no museu de Napoles.

Calipígia significa belas nádegas – Cali , bela e Pigia, nádega. Nessa direção podemos compreender Cali-grafia como a arte de ter boa letra, Cali-fonia é ter bela voz.



O conceito de beleza difere nas várias sociedades e de acordo com o tempo histórico. Houve época , lá pela pré história, quando os homens eram nômades e caçadores que o ideal era a mulher ser forte, robusta capaz de abater animais na caça. Houve tribos na África em que as mulheres colocavam mel nos cabelos para que ficassem cheio de moscas e abelhas. Quanto mais insetos tivesse, mais bonita se achavam.

De repente me pus a fazer brincadeiras com a palavra pigia.

Sabe, aquele modo de andar, tipo garota de Ipanema, sacudindo as nádegas, balançando ora uma ora outra, isso pode ser chamado de Ping Pigia, o pingue pongue das nádegas; demopigia é aquela nádega que é um demônio de tentação. E tem aquela pessoa que carrega tanta celulite que pode ser chamada de celupigia.

Credo, vamos parar, porque olhando no espelho percebo que não tenho nádega e portanto sou apígio.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Jejum, eita coisa difícil




SEMPRE TIVE DIFICULDADES com o jejum. Era só dizer que era para fazer jejum que a comida se tornava mais atraente, a carne mugia pedindo para ser devorada e o estomago passava a sentir fome demasiada. Eu sempre fui glutão, devorador de qualquer receita e ousado experimentador das mais exóticas culinárias. Mas tenho predileções. Tem aqueles pratos que eu gosto por gostar, e quando ele vem acompanhado de um vinho de bom tanino eu me perco no pecado da gula.

Por isso foi sempre difícil para mim a idéia de jejum, de abstinência de carne. Meus pais me ensinaram que se devia observar os preceitos religiosos e a Igreja apresentava-os como meio de purificação e mortificação. Eu me esquivava do sacrifício, driblava os pais e sorrateiramente, às escondidas , surrupiava algum alimento fora de hora. Meus pais não viam o delito e a Igreja não tinha como me policiar. Assim foi sendo sempre, vivendo de engodos e mentiras.

Até que um dia compreendi que o jejum que Deus quer não é o de boca, não é ficar sem alimento, não é abster-se de carne. Certa vez Cristo disse que o que mata não é o que entra pela boca, mas o que sai do coração.A Bíblia tem 40 referências sobre o jejum e em Isaias há a indicação de que devemos fazer o jejum da língua.Esse é o que Deus gosta.

A idéia me deixou alerta. De início achei que era coisa fácil,, principalmente por não precisar fechar a boca para os alimentos. Mas descobri que tinha que fechar a boca para as más palavras, que não poderia olhar para aquela corpinho dengoso, de caminhar requebroso e dizer ou pensar malícias. Descobri que o jejum da língua era não dizer palavrão, nem mesmo quando apertava o dedo na porta do carro, era não contar piadinhas indecentes, maliciosas.

O preceito ficou difícil. O jejum da boca faz bem ao corpo, abaixa o colesterol, diminui a barriguinha, deixa o corpo mais ágil. É bom para a estética corporal. O jejum da língua fortalece o espírito, acalma as tentações e abre o coração para o Bem.

Contudo é muito mais difícil levar a cabo a abstinência dos palavrões e das malícias afloradas quando se está na rodinha de homens, contando piadas e exercendo o masculino poder de ser homem.







domingo, 3 de abril de 2011

Zé da Venda




Era assim que ele era conhecido na pequena cidade de Delfim Moreira. Pouca gente sabia que seu nome era José Ribeiro de Castro. Acho que muitas vezes até ele mesmo não se lembrava. Na cidade quase todos tinham apelido, era Dito Bizorro, Joaquim do Zeca, Kim Queijeiro, Zé Pato, Nem as mulheres escapavam do costume, Sinhana, Nhãnhã, Zica, Maú.

Zé da Venda era alto, esbelto, e casado com minha irmã a Zica, que eu chamava de mãe. Eles foram meus padrinhos e talvez por isso criamos uma grande e agradável afinidade. Essa afinidade foi tão intensa que fui convidado para ser padrinho de sua filha Maria Rita, e quando ele queria falar sério comigo ia dizendo ” olha aqui, seo cumpadre.....”

Era proprietário de um negócio de secos e molhados bem no fundo da praça da cidade que era ponto de encontro para bater papo, só perdendo em potencia para os largos bancos da Pharmácia Nossa Senhora da Soledade, no outro extremo da praça. Tanto na venda como na Pharmácia falava-se de tudo, reformava-se o mundo e construía-se nova vida. Tudo no “papo”.

Como padrinho ele me amparava, aconselhava, corrigia e criticava. E sempre tinha um presentinho, mesmo que fossem balas.

Com ele fui fazer parte da Congregação M\ariana e ficava embevecido ao ouvi-lo cantar, com a larga fita azul no pescoço,” De pé. De pé, deu a voz de comando Pîo XI”. Eu acreditava que assim cantava para saberem que ele estava de pé.

Certo dia chegou na casa de papai, olhou bem para o meu rosto que estava começando a criar alguns pelinhos e dizendo que eu estava cheio de penugem me deu um aparelho de fazer barba, daqueles escanhotaveis, onde se colocava uma gilete. Tudo num belo estojo. Mesmo com a chegada de aparelhos elétricos e desses de três lâminas, eu guardava com imenso carinho esse primeiro aparelho de barbear. O tempo, a chuva e a enchente levaram embora essa relíquia.

Cansado da vida de vendeiro resolveu ir para a roça tomar conta de fazendas. Primeiro foi no Campo dos Chiqueiros, bairro às margens da rodovia que vai para Lorena, depois no Rosário, do outro lado da cidade. Minhas férias eram passadas quase todas nesses lugares. No Rosário, além de tudo. Aí eu aprendi a cavalgar como também aacompanhá-lo em caçadas na mata do alto do morro.Aprendi até a distinguir pegadas de onça. Certa vez, achando que já sabia tudo, entrei sozinho na mata e me perdi. As horas passavam e eu fui ficando nervoso, vendo rastros de onça pra todo lado e não encontrando a saída. Quando finalmente a encontrei, estava cansado e arranhado pelos espinhos da cerca que delimita o mato do pasto e o encontrei a minha procura. Não dei o braço a torcer e disse que estava tudo sob controle e que sabia o que estava fazendo. Ele não acreditou, lógico, e me passou um baita sermão.

Durou pouco essa vida roceira pois seu sangue de vendedor falou mais alto.

Meus filhos o conheceram em Itajubá, numa venda montada no bairro do Morro Chique, na rua que vai para o Hospital Escola. Mudou-se para a cidade grande para ter boas escolas para os filhos Homem valente, destemido, sofria de uma infecção crônica na perna direita e quando a dor ficava insuportável ele tomava de um canivete e abria a perna para escoar o pus da infecção. Com o tempo apareceu um câncer generalizado e ele se despediu deste mundo.

Bença, padrinho!



quinta-feira, 24 de março de 2011

O MISTÉRIO DA DOR.



VOCÊ FALA DEMAIS! Ela disse isso sem raiva, sem querer magoar. Disse apenas o que sentia. De repente se fez silencio, a sala ficou muda e as bocas se fecharam. Um olhou para a cara do outro e não sabia o que dizer.Ela, que disse para mim, VOCÊ FALA DEMAIS, ficou constrangida, perdeu a tranqüilidade. Eu senti a sua dor. Não a dor por perceber que todos ouviram o que ela tinha falado, mas senti a sua dor interior, aquela que fica presa no profundo do ser, dor que estava gritando por silencio, com vontade de debruçar sobre a própria dor. Muitas vezes a gente quer ficar em silencio para tentar entender. Muitas dores vem para serem compartilhadas, necessitam de afago, de tapinha nas costas, de palavras de consolo, podemos até dizer que são dores sociais. Mas há dores que querem ficar isoladas, escondidas, com medo de não serem aceitas. É como aquela criança feia, machucada, que tem vergonha de mostrar a cara para os outros.

O mistério da dor é tão intrigante que Adelia Prado chegou a afirmar que a dor não tem nada a ver com amargura. Podemos sofrer e ser alegres, cultivar a dor e ter o os olhos com o brilho das estrelas, e Adelia ainda afirma que cada dia a dor fica mais rica de humanidade. Que idéia maravilhosa a de que a dor se enche de humanidade. Charles Chaplin, o inimitável Carlitos, gênio do cinema antigo, dizia que para poder rir verdadeiramente devemos estar disponíveis para apanhar a nossa dor e brincar com ela. Brincar com a dor, fazer dela companheira de caminhada, tomá-la pela mão como duas crianças no jardim de Alá, correndo por entre as flores e soltando risos ao sol. A idéia é não levar a sério o que a dor quer nos falar porque ela pode embaralhar os sentimentos e misturar as sensações.

A minha amiga não é a única que sofre pois a dor é comum à humanidade, todos nós algum dia vamos tê-la em companhia, até Jesus, o homem que não teve culpa, o Santo de Deus, sofreu sua visita. E Ele ao invés de se desesperar usou-a como instrumento de educação e de salvação. Mil novecentos e setenta e cinco anos depois, Adélia, mulher que é apenas um dia mais velha do que eu, acha que tudo que acontece é feito pra gente aprender cada vez mais, é pra ensinar a gente a viver.

Tirar lição das coisas que acontecem, como o aluno que aprende com sofrido esforço, deveria ser uma coisa comum na nossa vida e que nos ensinasse a viver. Os ascetas ensinam maneiras para aliviar a dor causada pelos contratempos da vida. Até a História aconselha a usar de experiência anteriores para não mais cometer o mesmo erro, a usar a própria dor para dela tirar lições para o futuro.

Estou aprendendo com a minha dor e com a dor dos outros, pois todos tem a sua dor e o seu sofrimento. Talvez a minha dor me faça falar demais para amenizar as lágrimas que ele provoca ou esconder as chagas e cicatrizes que ela provocou.

Eu poderia olhar nos olhos de minha amiga e dizer, como Tagore, o poeta indiano, quando eu estiver contigo no fim do dia,poderás ver as minhas cicatrizes, e então saberás que eu me feri e também me curei.

O Equilíbrio Perfeito


O corpo humano é uma das maravilhas criadas por Deus. Não é a única. Formado por muitas e diversas células, cada uma delas compostas por partículas microscópicas, fundamentais para a vida e para o equilíbrio do corpo.

Cada célula, cada átomo se assemelha a um sistema solar, com um núcleo central, como se fosse um sol, e muitas partículas girando ao seu redor, como se fossem os planetas.

Tudo tem sua importância e responsabilidade por um trabalho perfeito, único e insubstituível e deve ser respeitado pelo dono do corpo. Se o indivíduo se atrever a romper qualquer parte desse equilíbrio estará sujeito a sansões desagradáveis. Paga-se um preço pesado cada vez que tentamos romper a organização de nosso corpo. Por exemplo, quando estamos ao sol, ou fazemos exercício físico, as células reclamam por água, nossa boca fica seca, e o um processo chamado sede alerta nosso corpo. Se não acudirmos com o líquido necessário sofreremos desidratação . O mesmo acontece com a falta de alimento, ou com a absorção exagerada de líquidos e alimentos, como ocorre nas festas e comemorações. O grito de alerta do corpo é chamado de ressaca.

A Terra, planeta em que vivemos, é um imenso corpo, um formidável organismo, formado por células as mais diversas, cheias de átomos em equilíbrio dinâmico e sadio.

Se rompermos tal equilíbrio, pelo desflorestamento, pelo acúmulo de lixo, pela poluição dos rios, ou por tantas outra ações predatórias, a Terra vai tentar recompor o equilíbrio afetado, não se importando com as conseqüências aos homens e animais.

É isso que temos presenciado nos últimos dias em que ela está reclamando contra a invasão de suas matas e destruição das árvores, reclama contra o desrespeito aos rios e pela poluição da atmosfera. Ela não quer morrer e para escolher viver tem que destruir o animal predador que a incomoda, e nesse caso é o homem. Se continuarmos a agredi-la seremos eliminados sumariamente.

O João do Leta, sábio amigo, me disse certa vez que Deus perdoa sempre, os homens perdoam algumas vezes,mas a natureza nunca perdoa.



segunda-feira, 7 de março de 2011

A Menina e a Estrela






LAURA, na inocência de seus poucos anos não compreendia o que estava acontecendo. Nunca vira tanta gente junta, só pela televisão, nos programas que assistia ou nos filmes.

O pai estava deitado , quietinho, dormindo sem roncar e sem gemer. Mamãe lhe disse que papai foi para o céu e se transformou numa estrelinha.
 Ela gostava de olhar o céu e ver as estrelas. Era muito bonito ver aquela porção de luzinhas piscando , lá no alto, como se fossem olhos abertos para ver o que ela estava fazendo aqui em baixo. Agora papai era uma dessas estrelas e ia ficar lá em cima olhando para ela. Mas ficar lá em cima não era a mesma coisa do que ficar aqui em baixo, juntinho dela, abraçando-a e lhe dando presentes. Ela tinha muitos presentes que quase todo dia o papai lhe trazia. Ela gostava de ganhar presentes e os guardava com carinho, com zelo naquele quartinho especial que para isso fora reservado. Todos os brinquedos eram bonitos, bonecas, bichinhos, velocípedes e até a bicicleta. Poxa, como era gostoso andar de bicicleta, ela já nem precisava das rodinhas laterais que não a deixavam cair.Agora já tinha equilíbrio e pedalava sozinha, sem medo e com firmeza. Era delicioso ouvir os aplausos de papai e mamãe pela capacidade de pedalar sem cair.

Ela se sentia feliz quando papai a pegava no colo, beijava lhe o rosto e dançava com ela, mesmo sem música alguma a tocar. Mas ela ouvia uma música sim, uma música que vinha lá do fundo do coração e que ela não sabia explicar.Algum dia ela iria dançar de verdade, igual a gente se vê na televisão, naqueles filmes bonitos, de príncipes e princesas. Seu pai seria o rei, a mamãe a rainha e ela a princesa. Era assim que se via nos filmes, era assim que ela queria fazer.

Mas agora papai partiu, foi para o céu, está lá longe e vai demorar para voltar. Embora a estrela fosse muito bonita, muito brilhante, cheia de luz, ela preferia que ele ficasse junto dela. Lá longe não dava para dar um abraço, beijar seu rosto e dançar juntinho. Lá longe ele não veria ela andar de bicicleta, pois de dia as estrelas foram dormir.

É por isso que a noite, quando todos estão dormindo, ela abre a janela do quarto e fica contemplando as estrelas no azul escuro do céu. Uma daquelas é o papai. Deve se aquela que mais está brilhando e é muito bonita.

Mas o coração fica apertado numa dor esquisita e os olhos ficam cheios de água e então ela pede:


- Volta papai. O senhor está muito longe e eu quero lhe dar um beijo e brincar de cavalinho.

- Volta papai. O meu coração está apertado de saudade


quinta-feira, 3 de março de 2011

Não!



Você nunca vai me entender...



Pode você entrar dentro de minha alma e ler os manuscritos do desejo?

Pode ler os manuais de meus sonhos?



Para você eu vou continuar sendo uma aparência.....

Aparentar alegria quando a alma chora e se dilacera

Aparentar o sim quando dentro de mim o Não corrói as veias da incerteza



Assim vou vivendo

Construindo uma fachada irreal,

Mentirosa,

Para esconder a real presença do meu Eu.



Você não vai me conhecer....

Não pelos métodos que você está usando....



Se queres saber quem sou

Abandona a sua vaidade

as coisas desnecessárias e fúteis,

abandona as armadilhas

colocadas para aprisionar os sentimentos;

abandona as tentativas de aprisionar os meus desejos.



Minha alma não nasceu escrava,

Não resiste á escravidão...



Minha alma nasceu livre,

Como o vento que assopra montes e vales

Como o ar que percorre o tempo.





Minha alma nasceu para construir caminho nas estrelas,

Descer a corredeira dos rios encachoeirados,

E como novo bandeirante

Se abismar com a beleza de novas geografias.

A geografia

De teu corpo e teu desejo,

De teu ventre e tua oferta,

De teu céu e teu inferno.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

De como chegar a Chácara do Ipê





Meu amigo, que mora longe, na cidade grande, queria conhecer a nossa chácara, e eu prazerosamente lhe escrevi dando o modo certo para ir lá.

No fim da reta do Dito Renó, lá onde o asfalto faz uma curva, pegue a direita numa estrada de terra, estrada boa, terra batida por rodas de carros e motocicletas, com muitas árvores e profusão de sombras. Não tenha pressa. Aprecie a paisagem que se modifica a cada curva.










 De um lado se vê gado branco caminhando em fila indiana como se estivesse em procissão. Estão á procura de sombras e logo mais estarão amontoados num mesmo lugar como aqueles bichinhos que vem nas caixinhas que a gente ganhava no Natal. Mais para frente, depois de uma descida larga, você verá casas brancas penduradas no morro, portas e janelas abertas para a luz, parecendo pintura dos Alpes.

É o bairro dos Pires, do lado direito é onde mora o seu Adelino. Gente boa , amiga e acolhedora, do lado esquerdo recoberto por árvores milenares está a Fazenda Pindorama do Sr Jorge Lemes falecido em 2000 , relíquia que Dona Dahyba, sua esposa, com oitenta e sete anos, não troca por dinheiro nenhum.

Continue a viagem e mais além passará por uma porção de casinhas á beira da estrada. Ali morou o Zequinha, pai do Giovane.São várias casas, todas de uma mesma família. Nem pense em parar aí, pois a turma é tão acolhedora que você não vai mais querer sair, principalmente se degustar os bolinhos de chuva que eles fazem.

Passe reto também pelo Vicente e pela Casa da Nana. Segure a tentação de parar para uma conversa com o pessoal que fica na entrada da Casa, em frente ao bambuzal. Esse é local de encontro da turma. Ai se vende e se compra de gado a galinhas, trocam-se carros e motos. Fala-se da vida, das pessoas, do tempo e do governo. Se não resistir á tentação de dar uma prosinha pode se aproximar.É uma obrigação social ouvir e participar.

Mas não demore, pois ainda tem caminho pela frente. A estrada fica cheia de vacas pelas margens, que mansamente cortam o capim verde para sua alimentação. São mansas e dão um bom leite. Pertencem ao Miguel, homem honesto e educado.

Agora se avista uma Igreja situada numa colina. É a Igreja de São José, o padroeiro do bairro, nela sempre há Missa e reza do terço e bonitas festas no mês de Junho. Pertinho dela fica a Escola Estadual. Em frente está a venda do Zé Pereira, homem atencioso, educado, de boa conversa. É ponto de parada obrigatória para todos. Aos domingos o lugar fica cheio de jovens. Pare aí, tome uma cerveja e convide os amigos para beber e eles vão lhe contar muitas histórias e fazer bastante perguntas e lhe indicarão o resto do caminho dizendo que está quase chegando, é só seguir o caminho reto e depois tomar a primeira encruzilhada á esquerda e encontrará uma bela cerca de sansão do campo, verde de doer nos olhos, de tão bonita. Ela serve de agasalho para ninhos de muitos pássaros.













As alamandas amarelas que enfeitam a entrada garantem que você chegou.Abra a porteira devagar, não a deixe bater senão machuca meu coração. Não precisa pedir licença, pois ninguém pede licença para entrar no céu, e nossa Chácara é um céu abençoado pela Virgem das Graças e Jesus Cristo. Se veio de carro coloque-o na garagem; se veio a cavalo, amarre o animal ao pé da goiabeira,mas tome cuidado para não machucar as orquídeas que enfeitam seu tronco.








Antes de entrar na casa vá até a gruta de Nossa Senhora das Graças e faça-lhe uma saudação. É dever de todos nós.

Puxe um banco, se aproxime, e saboreie o delicioso café que só a Rita sabe fazer. Você está em casa, aprecie as pereiras, que há mais de trinta anos vieram de Delfim Moreira, contemple os ipês amarelos como gema de ovo, as pitangas vermelhas como os lábios da mulher amada,os vários tipos de laranja . Mas não se esqueça de visitar as orquídeas, variadas nas cores e nas espécies. Elas são o dodói da Rita e a alegria da chácara.



domingo, 20 de fevereiro de 2011

Maria e a goiaba sem bicho





Raizes fortes que buscam o alimento para dar sabor e doçura aos frutos, tronco forte, enérgico, que sustenta galhos abertos, robustos, repletos de frutos adocicados. Frutos de aroma e sabor característicos, agridoces, de pele amarela e polpa vermelha.

Assim são as goiabeiras, providas de sombra para pássaros e orquídeas.

Tudo seria bom, os frutos seriam deliciosos, irresistíveis, se não fosse o intruso, pequeno diabinho que se alimenta de sua carne e apodrece seu sabor. Ninguém me explica de onde vem esse bichinho que todo ano perfura os frutos e estraga as goiabas.

O agrônomo me orientou a pulverizar as flores com uma mistura específica de alguns ingredientes químicos, e meu vizinho me aconselhou a envolver cada fruto, ainda pequenino, com saquinhos de papel. Tinha que se evitar a contaminação logo no início da fecundação, antes de se tornar fruto, pois depois disso o bichinho já se achava instalado.

Nós somos como os frutos da goiaba, produtos de uma árvore poderosa, resistente, de galhos firmes. Somos frutos saborosos de perfume característico, atraentes e desejados como beleza e alimento.

Iguais às goiabas nós já nascemos com um bicho instalado em nosso interior,o pecado original, bichinho voraz que roe nossa carne e se alimenta de nossa vida,

Para evitar essa contaminação deve-se ir lá no início da concepção e matar o invasor.

O estudo dos frutos da goiabeira me levou a meditar sobre a concepção imaculada de Maria.

Foi assim que Deus agiu com Maria, a Mãe de Jesus. Ele queria uma mulher que não tivesse pecado para ser a Mãe de Jesus Como competente agrônomo Ele buscou um casal de idade avançada, Joaquim e Ana, sem filhos. A mulher, estéril, se engravidou na velhice e deu á luz uma menina, Maria, que , por obra e vontade de Deus, foi preservada da contaminação do pecado, nasceu sem mancha, por isso se diz imaculada.

Goiabinha sem defeito, sem bicho, apresentando o sabor puro da fruta primitiva. Diferente de todas as outras, tanto em beleza como em sabor.

Só Maria mereceu essa graça.



quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Show da terra, no Céu







DÁ LICENÇA , SENHOR! Pode entrar, Romeu! Aqui você não precisa pedir licença, não. Quem vem para o Céu é porque faz parte da família. Entre, a sua casa está pronta, reúna-se a nós. Já o estávamos esperando. A voz de São Pedro, que o convidava, era forte e ao mesmo tempo suave. Ele bate palma três vezes e um anjo translúcido aparece carregando uma veste e Romeu se reveste de luz.

O ambiente é calmo, de uma luminosidade que ele nunca havia visto, luz forte sem doer nos olhos, sem causar desassossego. Luz que traz paz, embora haja muitos sons. Não há sol nem lua para iluminar, mas apenas essa luz que vinha de uma fonte que envolvia tudo, como se tudo morasse dentro dela.

Um pequeno anjo, de harpa nas mãos, pois harpa é o instrumento dos anjos, puxa a túnica de São Pedro e lhe pergunta se era “ aquele que faltava” e aponta para um lugar distante onde estavam várias pessoas, todas revestidas de luz, e com instrumentos na mão. Com os olhos da alma, que tudo vêem, ele reconheceu, um por um, seus companheiros do Jazz Brasil, o seu Alan, o Zequinha Major, seu Zito, seu Carmelo e seu filho, o professor João e tantos outros. De repente sua veste explodiu na luz de tanta alegria quando percebeu vindo ao seu encontro, com um sorriso franco, de cavaquinho na mão, o Zé Seda, cunhado e companheiro de muitas músicas. O aperto de mão não foi aperto de mão, o abraço não foi abraço, foi um penetrar de luz dentro de outra luz. Não soube explicar mas, assim, do nada, surgiu um saxofone em sua mãos, era O SEU sax alto marca King que tanto usara na terra.

E lá estava ele, junto com antigos companheiros, num palco de nuvens coloridas, azuis, formando o piso, e avermelhadas, alaranjadas, erguendo-se em dosséis. A música Moonlight Serenade saiu livre, leve e envolveu todo o céu. Não havia alto falantes e nem fios, mas ela estava em todo lugar e eis que ao mesmo tempo, o cavaquinho de Zé Seda, acompanhado por Zé Niquinha e Morais, rompe com os acordes da valsa Subindo ao Céu, e ele, Romeu, estava tanto no Jazz Brasil como no trio do Zé Seda, tocando em ambos, sem perder o rítmo e sem misturar as melodias.

Um anjinho comentou eufórico: Como é lindo o SHOW DA TERRA! E os anjos se puseram a dançar......

sábado, 1 de janeiro de 2011

LA VAI O MEU CAMINHO

Lá vai o meu caminho


Ivon Luiz Pinto



Lá vai o meu caminho

A procura de teus pés



Lavai-o com flores e cheiro

Lavai-o com cheiros de amar.



Vai alegre, vai correndo,

Como um menino moleque

Que brinca de seguir o vento.



Vai alegre, vai contente,

Vai correndo pra chegar.

Passa terras, passa montes,

Passa águas , passa mar.

Passa dias , passa noites,

Com vontade de amar





Lá vai o meu caminho,

Vai correndo pra chegar,

Vai levando amor e riso

Pra teu sonho enfeitar.



Lavai-o com flores e cheiro

Lavai-o com cheiros de amar.



Rios , montes , cachoeiras,

Matas , campos , alagados,

São rotas que fazem caminhos

Para meus pés fatigados



Lá vai o meu caminho

Se estendendo ao luar.

Vai correndo, vai alegre

Vai sonhando em te amar.



O caminho se alarga,

O desejo se estende

Quando a vontade de amar

Bate dentro da gente.



O caminho se enfeita

Se cobre todo de flor

Se perfuma e se faz belo

Para os passos do amor



O caminho diz: em frente!,

Vá em busca de teu bem

O coração diz: cuidado!

Vais morrer sem ter ninguém.



Lá vai o meu caminho

A procura de teus pés



Lavai-o com flores e cheiro

Lavai-o com cheiros de amar.