sábado, 3 de abril de 2010

MEUS SONHOS

Ivon Luiz Pinto




Devolvam os meus sonhos pelo amor de Deus!

Eu quero voltar a ser feliz !

Quero acreditar no Boitatá,

Saci Pererê, Mãe dágua.

Quero ter medo do pio da coruja,

E do fantasama das porteiras.



Quero chapinhar nas poças dágua,

Soltar papagaio,

brincar de pique,

rodar pião.



Quero voltar a ser moleque,

E sentar nos bancos da praça

sem medo da madrugada,





Devolvam minha vida pacata,

simples

, hospitaleira,

romântica

que sabia dançar o Tango, Bolero, Fox,

e percorria em serenatas as janelas das donzelas recatadas e adormecidas.

A Travessia

Ivon Luiz Pinto




Lá na praia, silencioso e fiel

O meu barco me espera para a grande travessia.



Vai recolhendo a minha Vida,

Meu passado e meu futuro,

Meu trabalho e meus desejos,

Para levá-los

como oferta

aos pés do Cordeiro

na Jerusalém Celeste.



Lá na praia

O meu barco se prepara

Para as águas tranqüilas,

Enquanto cumpro a Missão

De ser semeador e ser semente,

Ser abraço e ser carente,

ser pedido e ser perdão.



Lá na praia

O meu barco é esperança

De sempre ser chegada

Nunca ser partida,

Sempre trazer luz

Nunca escuridão.



E enquanto o barco espera

Eu trabalho na missão

Trazendo os irmãos no peito

E Deus no coração.

Sendo semente no campo

Da seara do Senhor.

Sou pedra apenas

Ivon Luiz Pinto


Sou uma pedra no caminho,

Pedra rude,

Desajeitada.



Sou apenas uma pedra

Precisando ser polida,

Lapidada,

para tomar forma e ser útil.



Sou uma pedra de construção,

Para servir de sustentação

Erguer muralhas

De amor,

De sonhos,

De felicidades.



Sou apenas uma pedra,

Com sua história de amor,

De paciência,

De resignação.



Sou uma pedra

Que pode ser amparo,

Que pode ser abrigo

Que pode ser leito.



Pegue-a,

Burile-a

Transforme-a

E verás a beleza oculta

Como explicar esse Amor?

Ivon Luiz Pinto



Houve um tempo em que o homem esteve no Paraíso, tempo sem dor nem tristezas.

Mas o homem não soube administrar a liberdade que é seu dom peculiar e um dia ele foi infiel, desobedeceu a Palavra e suas determinações e por isso se viu num tempo diferente onde a dor campeia nas curvas da estrada, o desconforto e a morte fazem ronda diária. Já não era mais Paraíso, mas apenas planeta Terra. Ele quis compreender o mistério do bem e do mal, mas , como sua visão e sua compreensão são limitadas,

ele nada conseguiu discernir . Quando o homem se rebelou contra Deus, querendo ser igual a Ele, Deus poderia simplesmente ter exterminado a raça humana. Para que conservar uma raça indisciplinada e infiel? Ele, Deus, não precisa dessa raça, com ela ou sem ela Ele existe a existirá sempre.

Deus não precisa de nada para existir. Ele existe porque existe, e pronto. Era só deletar o homem, apagar tudo....

Mas não foi assim que ocorreu. Deus resolveu confiar no homem e dar-lhe chance de se redimir.

O tempo passa e o homem não consegue se redimir, não consegue apagar a culpa e seu caminhar não o leva de volta ao Paraíso. Nem os profetas e mensageiros conseguem abrir as portas fechadas pela culpa. Adão se transformou em humanidade, o tempo se modificou em séculos, a terra se encheu de cidades. Mas o homem não se encontrou. A culpa ainda pesa e o discernimento humano não ajuda a compreender os mistérios do bem e do mal. Só um homem poderia abrir o caminho, pois que foi um homem que cometeu a falta. Então, o Filho se fez homem no meio de homens.

Não se aproveitou de sua origem divina, mas se fez totalmente homem, nascendo de uma mulher, tendo os mesmos sentimentos do homem, sorrindo as alegrias e chorando as dores, calejando as mãos no trabalho e cansando os pés na poeira das estradas. Homem. Apenas homem, com dores e desilusões, com amigos e traidores, sendo açoitado pelo poder estatal e escarnecido pela multidão. Como homem Ele amou, chorou , sentiu dores e foi executado. O homem executado abriu as portas para o homem pecador.

Para que tudo isso se Deus não necessita do homem e dele não depende?

Como explicar esse Amor?

O AMOR não é para ser explicado, mas para ser saboreado.

Que valor imenso não deve ter o homem para estar sempre na lembrança de Deus e ser tratado com tanto carinho que fez do homem o rei da criação, pouco abaixo dos anjos e amando-nos de tal maneira que nos ofereceu seu Filho.

Acho que estou ficando velho

Mas só no corpo. Na mente não, ou talvez, quem sabe. É que o corpo apresenta algumas modificações. Não são os cabelos brancos e as rugas que vejo no espelho que indicam a idade. Ele mostra os estragos feitos no corpo, mas não mostra o vigor da alma e da mente. Acho que vou trocar de espelho. Mas outras coisas acontecem e o corpo não me obedece. É um rebelde cheio de dores. Meus amigos me dizem que estou na idade do Condor: com dor na perna, com dor na ;cabeça, com dor nas costas e assim por diante

O meu cardiologista me encaminhou para um teste te esteira e lá fui eu todo apetrechado. Que vexame! Não passei do segundo estágio.Pudera.

Me colocam numa esteira que rola para tras e me mandam caminhar pra frente. Se não caminhar cai. Cai, uai.

Então ele me aconselhou fazer exercícios, fazer caminhadas para melhorar o tônus muscular e fortalecer o coração. Ah coração que me faz sofrer. Ele ama mais do que o corpo agüenta. Quando era criança tive uns probleminhas com ele e fui objeto de preocupação para meus pais e passei a chantagea-los. Quando queria algo já ia dizendo que o “ tolatão “ estava doendo. Graças a isso fui poupado de trabalhos pesados

As caminhadas estavam difíceis de fazer porque não achava horário agradável e nem tempo disponível. Quando a gente aposenta tem todo tempo do mundo para não fazer nada e não encontra-se tempo para fazer o que é preciso.

Um dia tive um rompante de lucidez e me lembrei da velha bicicleta. Eu sempre utilizei dela para minha andanças. Quando estudante saia de bicicleta da Praça Delfim Moreira para onde hoje é o INATEL e ainda dava muitas volta pela cidade. Trouxe- a de trem, despachada com cuidado, de minha cidade natal.

Resolvi reformar a verdinha. Ela foi totalmente desmontada, coloquei um cubo novinho, novas raias. Ficou brilhando de beleza. Mas faltava a campainha que eu queria que fosse original. Fui encontrar em Itajubá, lá perto do mercado. Pronto lá estava ela,bonita, reluzente me convidando para uma volta. A última vez que pedalei foi em 1975. Tive receio de não ter mais equilíbrio e resolvi praticar num lugar bem amplo. O campo de aviação. Tentei montar....que vexame.......as pernas se recusaram a erguer e passar por cima do quadro. Resolvi encostá-la no para choque do carro e trepar nela mas fiquei preocupado se eu caísse e me machucasse seria difícil arrumar socorro no campo de aviação.

Desisti da bicicleta. Ela está encostada numa parede da casa, bonita, luzidia, convidativa. Estou desapontado com meu corpo. As juntas estão ficando duras, só as juntas..... o cérebro não.

E agora que fazer? A bicicleta vai ficar em depressão pois foi reformada para suportar uma boa pedalada. Tadinha . Que faço com ela?

Meus músculos estão cansados, ficaram mais velhos do que eu, e se recusam ao exercício do ciclismo.

Ainda resta a mente lúcida e criativa.

E o coração , desentupido e cheio de amor.

É a vida. Alguém certa vez disse que a gente fica velho quando perde a capacidade de sonhar.